domingo, 19 de junho de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 mortonamata

motociata


motonamata
mortociata

 

Dinovaldo Gilioli


aurora em Congonhas

pelas mãos do Aleijadinho

fé além do tempo


na menina dos olhos

diamantes iridescentes

em Diamantina


ouro cor de sol

tingindo de luz dourada

ruas de Ouro Preto


rua em Tiradentes

ecos de uma inconfidência

em pedra-sabão


em São João del-Rei

o sagrado e o profano

na rua da igreja

 

                                           Tchello d´Barros



por onde andará macunaíma?

nos esgotos das águas do paraíba

nos corpos incinerados na usina cambaíba

nas ossadas humanas na praia de manguinhos

 

ou será que macunaíma

um boi só no curralzinho?

no extermínio de indígenas

nas aldeais amazônicas

no pantanal das queimadas supersônicas

ou será macunaíma

mais uma bala perdida

no morro jacarezinho?

 

ê bumba ê ê ê boi

ano que vem mês que foi

ê bumba ê ê é boi

é a mesma dança meu boi

 

é a mesma dança

nas senzalas nas favelas

no carnaval nas novelas

quem sangra carne não fala

carne seca na janela

tranca rua olhai por mim

urubus nos olhos dela

quem tira a vida não zela

brutalidade jardim

 

Dia 24 junho - 2022 - 19h

Santa Paciência - Casa Criativa - Rua Barão de Miracema, 81 - Campos ex-dos Goytacazes-RJ

Fulinaíma MultiProjetos

produção gráfica: Tchello d´Barros 



vísceras
humanas dançam
entre igarapés

pela passiva
TV

o beija-flor
a linha d'água

os
restos

de um

país

 

Delmo Montenegro 


"TANKAS? DESORIENTADOS: exercícios de ontem para hoje e para nunca mais."

*

vírus eufórico

evoca o poema íngreme

dobrando-se em arpões.

em névoas escarlates,

à prova de balas – tempo-sonho.

*

cérebros se rompem.

ao desatino cos fuzis

suscitam preâmbulos.

corpo em sangria, impávido

colosso de trópicos matagais!

*

facção hostil –

sirenes da convicção-intervenção-ambição,

cínica sem candura.

sem perspectiva, sem escrúpulos,

sem índole, prolixa, bizarra!

*

passado sibila em víboras.

presente flameja as trevas.

futuro expurga a luz.

nas rondas da história,

odor acre pelos porões.

*

tempo-carrasco –

ouvem-se palavras trêmulas

no rio raso.

é quando o céu se vê

vasto espaço em vermelho.

*

silêncio de marfim –

entre as palmas das mãos e os pulsos,

penitentes olhares.

sépalas cinzas – país sem pálpebras,

em frágeis noites de junho.

*

fantasmas ciciam

na pele antiga das árvores

um tempo íngreme.

tendões das madrugadas,

coturnos sem polimento.

*

inverno sombrio –

ruas líquidas sem línguas

de vozes-coágulos.

ouve-se o ruído de folhas

macias sobre o concreto.

*

canto

à palidez das nuvens

em espasmos.

posso ouvir-me roendo

os ruídos dos últimos porões.

*

indago

à pele de papel:

musgo de pedra é macio?

olhos suplicantes – índigos,

essa aridez sem fim.

*

alfazema –

mãos carnívoras,

água funda, algas-algemas;

amor amorfo imperfeito,

olhos voltando-se contra si.

*

lua-cárcere.

restos de cadáveres

em sacos pretos.

nesses dias de rostos em rugas,

abutres escolhem lápides.

*

libélula azul.

caída de joelhos no rio

envelhece com olhinhos brandos.

olhos promíscuos desnudos

de cor, ideia, forma e fundo.

*

absorvo o nevoeiro

sobre cruzes de igarapés e rios.

pássaros não gorjeiam mais.

com lâminas oxidadas, cortem minha língua

e mãos; furem meus olhinhos;

minhas veias suportarão

a dor de devorar

a treva.

*

by Ziul Serip, in "Tankas? Desorientados - exercícios de ontem para hoje e para nunca mais."

imagem: "Emboscada" Andrew Salgado


Os xamãs do Vale do Javari acolhem o espírito dos animais e da floresta e dão forma a estas mensagens através de cantos.

 Hoje o canto é de dor, indignação, e de memória por Bruno e Dom que estavam na floresta para defender aquilo que ainda vive por lá , cenário desesperador de destruição e violência que estamos testemunhando há tempo!

 Somos todos testemunhas desta crueldade e precisamos dar voz, da maneira que for, a toda a dor que eles e suas familias estão sofrendo.

 Abaixo o canto do espírito do gavião preto do Xamã Marubo Armando Cherõpapa.( Tradução de Pedro Cesário)

 

koin rome owaki

menokovãini

naí koin shavaya

shavá avainita

ave noke pariki

yove mai matoke

koin mai matoke

shokoivoti

flor de tabaco-névoa

caindo e planando

à morada do céu-névoa

vai mesmo voando

assim sempre fomos

na colina terra-espírito

na colina da terra-névoa

há tempos moram

 

Edson Luiz André de Sousa

 ( A foto é de Priscila Tapajowara, mulher indígena , fotógrafa e cineasta)


DO AMOR


Deita-me em tua alma,
faz dela (a tua alma) o meu abrigo

estendo-te por inteiro em minha alma
faço dela (a minha alma) o teu aconchego

- somente assim somos amor -

Em dias (ou noites) de tempestade
não tenhas medo que eu te devore
nossos corpos não são animais famintos
tão somente casas efêmeras de guardar-nos
almas sobreviventes ao mundo

- nenhum corpo devora outro corpo em nome do amor -

Não sou tua propriedade
nem me pertences

como poderia eu ser tua onde nem sequer sou minha?
de que modo eu te teria, se desconheço a chave que te abre de coração inteiro em todos os domínios do tempo?

É preciso que desfaçamos os egos

- sobraremos dois elos que se encontram em almas completas
: isso sim tem nome de amor -

(Nic Cardeal, 12.06.2022 - para meu infinito particular)

(
📸 ilustração via Pinterest)


fosse Alana

Clarice
Elisa Clara Beatriz
em tudo que não me disse
em tudo o que não me quis

fosse girassóis
nos cabelos
a flor que Van Gog
me diz
teus olhos
cravados no espelho
o poema
que ainda não fiz

Artur Gomes
o poeta enquanto coisa

Editora Penalux – 2020

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Fulinaíma MultiProjetos

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fulinaima@gmail.com

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