domingo, 30 de outubro de 2022

O Ator

 


O Ator

Plínio Marcos

Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida.

Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.


Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva.

O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.

Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem.

E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a plateia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.

Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica. (1986)

 

 

 

 

O Pau Brasil Sangra

 



O Pau Brasil sangra

 

Amazônia clama por socorro

o fogo queima e o mundo

gira feito carrapeta

armar o país de livros

única forma de salvação para o planeta

 

olha o tesouro que acaba de chegar aqui na Estação 353. com este poema do livro Pátria A(r)mada 2ª Edição.

valeu Luis Turiba - grande amigo poeta e parceiro

 

Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

mas eu ardo

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada –

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio 2020

2ª Edição – 2022

Desconcertos Editora – São Paulo-SP

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/



 

mote

os versos me intimidam
o cerne
o lastro
o domínio do verbo
não me reconhecem
escapam-me insólitos

as palavras insubordinam-se
busco fôlego
lume
seiva
fórmulas nos antigos códices
pergaminhos sagrados
congo que me salve a alma

tremem- me as mãos
os dedos gemem
deliro
à frente incógnita
nenhum alento
nem corda que me alcance

espero poema música
que se espalhe
me espelhe
dance comigo pela sala
mas as palavras a mim se negam
a liberdade lhes tornou fala

poesia é mote
colcha de retalhos
crise dialética
contingência
discurso
práxis
bipolaridade a espantar incautos

menos valia
encolho-me
valham-me todos os deuses
:
a poesia não se vende

 

Ivy Menon



DELÍRIO

Michaela Schmaedel

 

Um bem-estar

se esconde sob a ironia

atormentar os vivos

e os mortos

com a teoria de dias

mais capazes

o mundo desmoronando

e eu aqui

pensando em versos.

 



Ilusão

 

com uma esperança nova

vinda sabe-se lá de onde

está mais bonita hoje a rua

 

o verde ajuda a esquecer

o infortúnio

 

o amor aparece

a voz, o cabelo, as mãos

 

coloco lado a lado

o que já não há

o que resiste

 

numa tentativa vã.

 

Michaela Schmaedel

Paisagens inclinadas

Editora 7Letras – 2022



Do silêncio que fala

 

Tem dias que calo

não pelas palavras

que me tiraram

e sim

pela saudade dos amigos

que me faltam

 

calado,

me entrego a lembranças

que dispensam palavras

e giram no moinho de água

dos meus olhos

 

em dias que calo

e me digo mais palavras

do que quando falo

 

calado

reinvento alegrias,

recupero vozes

e dou movimento a imagens

que se perderam no outro lado

das pontes caídas

 

em dias que calo

e mesmo assim

falo.

 

Ademir Antonio Bacca

In Sala de Espelhos

3i Editora Ltda – 2022

Org. Chris Resplande




A Rosa do Povo

para Drummond, Darcy Ribeiro e Oscar Niemayer  in Memória

 

a rosa de Hiroshima ainda fala

a rosa de ainda cala

Frida e seu cabelos de aço

Picasso pintou Guernica

e quando os generais de Franco

lhe perguntaram:

- foi você quem fez isso:

ele prontamente respondeu

- não, foi vozes quem fizeram.

 

Agora trago a Rosa do Povo

para os dias de hoje nesse Templo escuro

quem poderá viver nesse presente?

quem poderá prever nosso futuro?

nem Zeus nem o diabo que os carregue

eu quero um reggae um arte lata

a vida é muito cara nada barata

eu sou Drummundo Curumin - no fundo 

Tupã Rebelde não pede  arrego

poesia é pra tirar o teu conforto

poesia é pra bagunçar o teu sossego

 

Artur Gomes

https://porradalirica.blogspot.com/


Fulinaíma MultiProjetos

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/


terça-feira, 25 de outubro de 2022

Geleia Geral - Revirando A Tropicália

 


Geleia Geral – Revirando A Tropicália

Quinta Edição – 28 – outubro – 2022 – 19h - Santa Paciência – Casa Criativa – Rua Barão de Miracema, 81 – Campos ex-dos Goytacazes-RJ



Programação:

1 – Abertura – Artur Gomes -  fala sobre as múltiplas formas de violência que estraçalham a cultura e as artes – fragmentos de poemas do livro Pátria A(r)ma


Sorteio do livro Zona Branca, de Ademir Assunção


2 – Lançamento do Livro: Mana Chica do Caboio – nos passos da Dança Fluminense, de  Priscilla Gonçalves de Azevedo  - fala da autora sobre o livro



3 – Fulinaíma Magnética

Música com Marcella Roza, Marcelo da Rosa, Serginho do Cavaco e Mellyssa Mel


4 – Roda de Conversa – as múltiplas formas de violência que estraçalham a cultura e as artes –

com Aline Portilho e Vera Pletitsch, mediação de Carla Beatriz Rangel Paes



5 – Roda de Poesia

Com Adriano Moura, Adriana Medeiros de Bito, Aimèe Cisneiro, Christina Cruz e Joilson Bessa




Fulinaíma MultiProjetos 

fulinaima@gmail.com

22 99815-1268 – whatsapp

https://ciadesafiodeteatro.blogspot.com/


domingo, 23 de outubro de 2022

Mana Chica do Caboio

 


Mana Chica do Caboio 

 

bom dia meu anjo azul

a moça mais linda que veio

do Rio Grande do Sul

 

palavras pessoas poemas

prendas da minha história

quando vivas na memória

levo pro papel pro palco pro cinema

 

vem minha moça bonita

já não somos castos

o sangue escorre nas veias

abertas as nossas feridas

 

a roda gira gigante

ó minha prenda querida

a lenda mais em/cantada

pelos cantadores da vida

 

a roda gira não para

essa serpente atrevida

poema pulsa universo

e a moça dançou no arroio

e veio  do Rio Grande pra festa

 da Mana Chica do Caboio

 

e para cantar esses versos

a todos pedimos apoio

:

 

Mana Chica Mana Chica

Mana Chica do Caboio

Quem nunca comeu pimenta

Não sabe que coisa é moio

 

Artur Gomes

Geleia Geral – Revirando A Tropicália

Leia mais no blog https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/

 

Lançamento do livro dia 28 – 19h – outubro – 2022 – na Santa Paciência – Casa Criativa – Geleia Geral – Revirando A Tropicália – Rua Barão de Miracema, 81 – Campos ex-dos Goytacazes-RJ

Coletivo Letras e Ares - CONVITE







 

que as nossas lutas

sejam braços abertos

apontando direções ao mundo

 

levanta meu boi levanta

que é hora de levantar

acorda boi, povo todo

povo e boi tem de lutar

 

Artur Gomes

Do livro - O Boi-Pintadinho – 1980/1981

Adaptado para Teatro de Rua, com  alunos da Oficina de Teatro da ETFC – desfilamos pelas ruas de campos até 1987, quando criamos a Ciranda do Boi Cósmico para comemorar  a eleição   de Luciano D´Ângelo  para a direção da Escola. Além das performances de rua, a  Ciranda do Boi Cósmico foi encenada durante uma semana, no Ginásio de Esportes, com cenário criado pelo então ex-aluno Genilson Paes Soares e o Boi levava em sua  pele branca poesia em movimento, e a sua cabeça foi criada pelo professor de eletro Marco Maciel,  utilizando pequenas engrenagens do laboratório de Eletrotécnica. Os chifres, eram tubos de PVC, e os olhos duas lâmpadas movidas a bateria de 6 volts. Depois disso a ETFC deixou de ser o que  era antes, uma  escola de ensino totalmente tecnológico, para se tornar CEFET e  IFF, com uma rede e cursos voltados para áreas humanas. Desconfio que tem uma pequena contribuição minha aí, para essa transformação.

 

Leia mais no blog https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/


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