quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Itabapoana Pewdra Pássaro Poema

          Itabapoana Pedra Pássaro Poema

 *

poesia alquimia bruxaria

 

o rio com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

 

Artur gomes – rio em pele feminina – Juras Secretas p. 27

 

“hoje não tem fernando pessoa”

                            Caetano Veloso

       in é proibido proibir – 1968

 

choveu pedra em São Francisco do Itabapoana se de gelo ou granizo inda nem sei só depois da apuração da comissão de inquérito instaurada por alguns moradores da localidade  do Macuco saberei.

 

                       Federico Baudelaire

 

cada qual com sua Natureza , pode ser garoa ou correnteza , é o tempo comandando a sua Fortaleza


                                       Zhô Bertholini

          CAVOUCANDO A TERRA


                                               Wilson Coêlho

 

A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.

Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia,  como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.

A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal.

Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar  as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade.

Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da poesia extemporânea.

             Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em

Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”.  Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina.

Itabapoana Pedra 

Pássaro Poema

 

eu nasci concreto

na horizontal - ereto

depois fui me abstraindo

me substantivando me substituindo

criando outros e outras criaturas

em minhas estruturas amorais do ser

eu nasci assim e fui me associando

a outras escritas as que foram ditas

a outras  não ditas

as benditas as malditas

as que disseram minhas

e a outras que raptei de outros

pela minha nova maneira

natural de ter resistência a toda

qualquer coisa que não

é

e as que são coloco como cartas

sobre a mesa para surpresa

de ver que todo santo dia é dia d


meu corpo não trafega

nas tabacarias de lisboa

o poema pode ser

um beijo nessa pedra

    antes que me fedra

                      o poema voa

                             traição grega

 

helena me deu

um cavalo de pau

me jogou no vento

me pegou em troia

me roubou a jóia

me deixou em trento

  

libertinagem

 

tudo entre nós é fresta

antes depois da festa

que ainda nem começou

inútil explicar o poema

o Dedo de Deus

 estrela do mar

serra da Mantiqueira

inútil tentar entender a beleza

do azul/marinho da Portela

o verde/rosa da Mangueira

inútil querer saber de mim

se FlorBela ainda vive

no outro lado da janela

ou nos Retalhos Imortais do SerAfim

se foi Cândido Portinari

quem pintou as portas de entrada da favela

ou se foi Rúbia Querubim


parece-me apodrecida a argamassa nos parâmetros dos palácios a massa só come o pão que o diabo amassou portas sempre fechadas na cara do trabalhador grandes fortunas livres de impostos projeto para aliviar o bolso do povo câmara dos deputados rejeitou


                           Federico Baudelaire


“Sem eleições gerais, sem liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre debate de opiniões, a vida se estiola em qualquer instituição pública, torna-se uma vida aparente em que só a burocracia subsiste como o único elemento ativo.”

 

                  Rosa de Luxemburgo,

                   A Revolução Russa, p. 97.


cica de caju com cajarana cajuína não tem gosto de cajá como me.disse catarina ouvi raul tocar jobim em teresina numa mesa do mercado era casulo no caos até que música inaugurou a coisanova em caetano  foi então caí de quatro com seu  hélio de torquato

 

                         EuGênio Mallarmè


não tente me apagar

nem me esquecer

tenho memória de elefante

você vai enlouquecer

nessa terra de gigantes

da imperial tropicanalha

 entre a cruz e a espada

a faca e a carnanavalha

não me desligo um só instante

             do que possa acontecer

 

                Artur Kabrunco

A

lavra 

a pá/lavra poesia - a primeira vez que grafei a palavra dessa forma foi em Couro Cru & Carne Viva - 1987 - e as referências que aparecem até hoje em minha poética começaram a surgir em 2000 no livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas

              um lance de dados

 

doze e quarenta

e seis

mallarmè

na hora incerta

dormindo

visível na besta

sinal inviável

na quarta

dedo de deus

na segunda

jogando dado

na sexta

           leminsk i Ando

 

só olho ana à vera

faça outono ou primavera

quantas eras quantas anas

em carNA val meu olho disse:

ana à vera  vera ana ana clara

claralice

vejo ana lendo Eunice

quando li eu vi lua na

e

ana ali só vi lia ana

ana/verso          anAlice  


 B no coração  dos boatos

 

isso aqui não é a hora da estrela, minha mãe não é alice.

que apesar de freira, de hábito, só tinha o vício de me prender por entre o crucifixo colocado entre as suas pernas.

macabea vivia  falando sozinha pelos corredores federais da outra inquisição.

conseguia de vez em quando reunir alguns habitantes mal informados sobre a ressurreição das artes aromáticas , e passava o tempo querendo mostrar seus dotes culinários nua e crua. 

estuprada pelos estivadores daquele cais do porto tentou arrancar o sexo com as unhas e enlouqueceu uivando como loba amarrada a santa cruz

de uma cabrália velha igrejinha 

enquanto na primeira missa

o galo camões bem galinha

chocando o ovo do índio

ou

pero vais que caminha

           Itabapoana Pedra Que Voa

dia desses sonhei com alquimia
ciência da transformação
na prova dos nove é alegria
o coração da pedra vira pássaro
         e voa para outra dimensão

  balburdiar eis o verbo

ver pra crer

:

               difícil de falar

ótimo de fazer


amor

balbúrdia gozosa

jorrando poesia

                 enquanto goza


*

fazer balbúrdia

jogo de cartas

sem  baralho

:

dá prazer

                  mas dá trabalho  

              curta brisa

 

não tem jeito

 a vida é uma fera

quando menos se espera

 uma hora qualquer

a máquina dá defeito

então o que me resta

 para não perder o fim da festa

- fechar a boca

 cortar um kilo disso

 outro daquilo

e nada de comer aquilo

 porque o vento me avisa

a melhor coisa é comer a brisa

curtir a atriz enquanto ela me desliza

minha irina toda via

é travessa e atravessada

em transversas travessias

trepa sempre nas esquinas

contra o poder da tirania 

                           *

no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a fricção e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas alguma paisagem na janela da viagem toda via quando lia o lado b         me transmutando em alquimia


a selva de concreto fala pelos seus poros ela veio de outra mata virgem agora devorada pelos dentes da cidade irina     evapora      não chora mamãe não chora a vida é assim      mesmo inda não fui embora


meus 7 sentidos


fulinaíma me veio no vento um instrumento invento para acrescentar a minha escrita para escancarar a minha fala percorria a   bandeirantes quando me dirigia para campinas com oficina de artifícios e não sei em que ofício a pedra do rock rola a pedra do vento voa depois de um instante qualquer que seja o estalo nos meus 7 sentidos já perdi a conta do tanto faz então pra mim tanto fez o faz de contas que me quiseram impor sem ao menos saber se quero o tempo ajusto as pedras que rolam meu calcanhar é testemunha em toda veracidade verdade deve ser dita em qualquer tralha da cidade porque bem sei por quantas trilhas já trilhei    para chegar até aqui

                   jura secreta 102 

a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que te veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de amsterdã desvendar hollandas
e os mistérios da palavra por entre o nó dos  cotovelos


muitas vezes

 descrevo minha musa

num poema menos lírico

mais intenso

mais irônico menos penso

muitas vezes 

 quero estar em  alfa

mas estando  em beta

a massa do abstrato

na argamassa do concreto

minha musa é linha curva

não  poema em linha reta

nasci no dia nacional do samba talvez por isso aos 15 entrei para mocidade independente de padre olivácio – a escola de samba oculta no inconsciente coletivo instituição criada pelo intrépido artur gomes kabrunco  uma filial da igreja universal do reino de zeus pastor de andrade o antropófago não anda muito satisfeito com meu comportamento a frente da bateria da escola mas como sou capixaba e não amo capixaba e a única coisa de capixaba que gosto é a torta de frutos do mar  e o quibe de peixe amor com capixaba não faço já disse isso milhão de vezes mas faço amor não faço guerra e quem quiser que me queira por esta selva  inteira

 

                               Rúbia Querubim

 

poéttica

imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu de vista na estrada


translúcida

 levanta natureza morta  você não é cubism0 de picasso nem surrealismo de  dali diante os cabelos de aço de frida calo muitas vezes vejo muitas coisas ao mesmo tempo na fotografia dou um corte no pensamento para que o vento me traga o norte levanta pássaro sem sorte o passo em falso o cadafalso predestinada  a sina

                                 em sua morte

tenho andado vermelho de sangue caranguejos explodem no mangue boca da barra guaxindiba gargaú balas pipocas nos becos na corda bamba do hemisfério sul tenho andado nas tralhas das trilhas vendo fantasmas nos telhados e o caroço desse angu nas entrelinhas dos tratados com cascavel surucucu quem foi que disse que essa terra é santa ? quem foi que disse que isso aqui é ilha? só pode ser filha da outra a que pariu o boi zebu

             pedra pássaro poema


era uma vez um mangue e por onde andará Macunaíma? na sua carne no seu sangue na medula no seu osso será que ainda existe algum vestígio de macunaíma na veia do seu pescoço? tá no canto das sereias tá no rabo da arraia nos becos nas favelas na usina sapucaia? na  teoria dos mistérios dos impérios dos passados nas covas dos cemitérios desse brasil desossado? macunaíma não me engana bebeu água do paraíba nos porões dos satanazes está nos corpos incinerados na usina de cambaíba em campos dos goytacazes macunaíma não me engana está nas carcaças desovadas na praia de manguinhos em são        francisco do itabapoana

leia mais  em ArteCult.com

inquieto procuro mais uma palavra cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da palavra polifônico sinético poema biotônico ressigni –ficar cada lugar na sua coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu diário escrito em aramaico me persegue quero mais que o quiabo vos carregue uma tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã filosofia lembra daquele dia dezembro mil    novecentos e noventa e quatro?

                        itabapoana

 

pedra de toque

língua de rock

blues bodoque

não gaste seu silêncio atoa

um beijo nessa pedra

            e a palavra voa

 

 pohermeto oswaldiano

que a cia das letras ainda não publicou

 

pedaladas ao mar

 quando invento

poema  ao sabor do vento

 as mambucabas quando chegaram em santa clara traziam pimentas caiçara conchas vermelhas de ubatuba salsinhas de itacoatiara miçangas azuis de são luiz do paraitinga trilhas da serra  de paranapiacaba   muitas garrafas de pinga para as mesas do interventor godot não perdia tempo metia a boca na moringa pensando que era um coringa  dos bailes do imperador  tomava banho em   guaxindiba  enrolado nos trapos  do enxugador

a flor do mangue

para cristina bezerra

 

um dia em gargaú

atravesso para o pontal

onde o paraíba beija  atlântico

num ato transexual

 

outro dia na barra

onde o itabapoana

é quem beija o lixo atlântico

penso  quântico  caranguejo

é o beijo do desprezo

 

são francisco não me engana

sagaranagens que faz comigo

   eu procuro a flor do mangue

             no litoral do teu umbigo

*

são francisco um cisco risco de mergulhar no precipício saltar o muro na porta do hospício risco traço de palavras tortas palavra que não dizem nada  risco de perder a curva e seguir a linha reta medo é uma forma concreta de agarrar o abstrato

                       Itabapoana Pedra

                   Pássaro Poema

 

uma metáfora

não é apenas uma metáfora

quando a pedra é pássaro

 

em gargaú

às 5 horas da tarde

as garças voam

em direção

ao outro lado da pedra

em guaxindiba

tenho em mim

que pássaros voam

peixes nadam

quando procuram

outro pouso

 

bracutaia eterna lenda

estranho pássaro

da pedra ouviu o grito

que voou de gargaú pro infinito


*

o caramujo mordeu a língua de clara sangrou até o dedo grande do pé pedalava pela  vinte e oito quando vi o alvoroço frente o  circo portugal elétrico com seu teleférico eletrizante ponte para travessia caminho para o nada tenho agora imensidão de palavras enferrujadas procuro fórmula farmacêutica para uma palavra drummundanamente limpa além da sagaranagem delírio pouco é bobagem

*

tinha seca    quando rachel  escreveu quinze meus olhos doeram nos olhos de quem doeu conceição não entendeu os olhos de Vicente cordolina de repente abriu a cancela

o gado se  perdeu pro carrapato  chico bento se mandou pro amazonas o quintal não me abandona também nasci do  mato

cacomanga da tapera  a vida nunca  foi dada a quem a vida inteira espera   

*

estava assim ankara meio sorocaba meio araraquara perdido entre a turquia stella guanabara mário tinha febre quando inventou macunaíma numa semana não santa também tenho febre na garganta e me espanta o adiantado da hora

      batismo de fogo

quando te encontrar

não sei o que irá

não sou de irará

nem irerê

mas imagino

o que possa acontecer

na confissão


não sou luiza possi

mas amei zizi

cantando

salgado maranhão


quando for imperatriz

será os sete pecados capitais

lancei os Búzios

e no jogo deu lília diniz

eu nasci na cacomanga - confesso


nasci federico DuBoi de Baudelaire

da caneta de um poeta que não escrevia poema em linha reta muito mais torta enquanto curva nos aceiros dos canaviais da cacomanga aprendi que antes arte do que nunca só ela salva assim quando pessoa descobre que não vale nada a mais valia do estado que amassa a massa do proletariado que não teve a sorte de ser filha dos donos dos palácios pra mudar a dura sina de quem já nasce favelado


ainda não disse que te amo mas não se assuste o beijo está guardado debaixo dos tecidos que cobrem o esqueleto à flor da pele na carne onde a palavra mora e a lavra aplaca qualquer ferida deixada por alguém que já foi embora muitas coisas muitas vezes tão distantes me parecem tão presentes que o ausente evapora como éter eternamente simplesmente o rio escorrega por entre pedras e seixos e a vida segue o curso da corrente numa boa a pedra que rola sob o leito d´água muitas vezes voa

cracatoa

para Tanussi Cardoso

 

esse poema

é um trato com a palavra

sem existencialismo

cansei dos ismos pós concreto

cansei o tempo não é reto

esse poema

é um trato com a palavra

sem objeto direto ou indireto

substantivo abstrato

cansei o tempo é o batom

de margareth em meu retrato


               laranja cósmica


em são francisco de itabapoana não tem laranja cravo poukan ou mexerica como meus intestinos não vivem  mais sem bagaço de laranja estou importando laranja do cosmo com minha astronômica luneta descobri fartura de laranjas em marte vênus plutão e o irônico é que em são francisco do itabapoana só tem laranjas nos telhados não tem laranjas no chão

              mitologia sagarânica


salvador alisa os bigodes de dali macabea ensandecida morre ali mesmo em sucupira no presídio federal de brazilírica porcina mete a língua na faca de lorca as unhas sujas de irina cortam morangos mofados na fruteira enquanto odorico ordena zeca diabo a organizar o enterro das camélias  diadorim sopra o cano da garrucha  pendurada em seu olho esquerdo sagarânica em polvorosa comemora mais uma noite de são joão

                        mitologia brazilianas

 

breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza  leopoldina perambulava distraída e  preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as  chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo a sua afrodite de vênus

tempo de poesia

para Renata Magliano

 

lancei o tempo

na agulha de uma fresta

ainda bêbado de ontem

bebo as 35 pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

é o que nos resta 

 

assassígno

para Márcio de Almeida

 

na argamassa do abstrato

no abstrato do concreto

sou um vampiro

 bêbado de sangue

assassinei os alfarrábios

para inventar meu alfabeto

 

travessia

 

quando atravesso

para outra cidade

em  travessia

faço um traço

passo em travessão

transverso

como um verso

que ficou inacabado

         era uma vez um mangue

e por onde andará Macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?

tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?

Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia

                         fulinaimicamente

 

do som dessa palavra

nasce uma outra palavra

fulinaimicamente

no improviso do repente

do som dessa palavra

fulinaimicamente

 

brasileiro sou pele de gato

brasileiro sou mesmo de fato

brasileiro  bicho do mato

yauretê  curumim carrapato

 

em rio que tem piranha

jacaré sarta de banda

crioulo tô na umbanda

índio fui dentro da oca

meu destino agora traço

dentro da tribo carioca

 

Jackson do pandeiro

Federico Baudelaire

nas flores do mal-me-quer

Artur Rimbaud na festa

de janeiro a fevereiro

Itamar da Assumpção

olha aí Zeca Baleiro

de olho no mundo cão

 

musicado e gravado por Naiman

                FULINAÍMA


misturei meu afro reggae a muito xote

do xaxado ainda fiz maracatu

maxixe frevo já juntei ao fox trote

quando dancei bumba meu boi em pernambuco

fulinaíma é punk rock

rasgando fados em bossa nova

feito blues

para pintar a pele branca de vermelho

e repintar a pele preta de azuis...

botei sanfona no rufar desse baião

tambor de minas capixaba no lundu

no paraná berimbau de capoeira

dancei em noites de luau no maranhão

 

mas em são paulo pedras quando rolam

pelos céus de nossas bocas meus irmão

fulinaíma azeita o caldo da mistura

para fazer o que não jazz ainda soul

porção de restos de alguma partitura

que algum músico com vergonha recusou

por ser estranho o que naquilo descobriu

mas se a gente canta no cantar essa ternura

é que mamãe mamãe mamãe macunaíma

ainda chora pelas matas do Brasil

 

            musicado e gravado por Reubes Pess

A Traição Das Metáforas
:

Um Outra


há tempos
não escrevo
um poema como esse
:
a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um imagem cinerbética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do espelho atrás da porta do meu quarto ainda quando teu retrato em Nova Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre Guima que cultiva em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo Antônio que HygiaFerreira guarda para o casamento com ela aprendi que o amor mora muito além 
da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do outro lado não percebi em minha língua de Vênus o veneno que escorria  entredentes quando alguém apagou a luz do abajour e anoiteceu a madrugada de sonhos


o pau brasil ainda sangra


no último dia de agosto do ano de dois mil e vinte e quatro amarrei os cadarços dos meus sapatos na realidade dei um nó  o pau brasil ainda sangra brasil é brasa fogo por todo canto fogo por toda casa incêndio  na Amazônia incêndio no pantanal  mas em sampa o governador afirma que não é crime

: “tudo dentro dos conformes tudo dentro do normal progresso do regime economia de mercado terra para a soja pasto para o gado”


a mão assassina tem nome

a mídia assassina é uma só

ou não elegemos mais

quem defende agro negócio

e a bancada dos seus sócios

ou morreremos todos assados

                   e o país vai virar pó

por onde passeio 

minha língua


tenho ainda tuas unhas
mesmo não estando
entre meus dedos
e no estado em que me encontro
mar é corpo palavra/carne
tua língua meu brinquedo

não creio amor sem isso
nem entanto aquilo outro
pouco entendo do espírito
mas o meu inda é de porco

se nunca estive
agora estando
é que absinto não me cura

se o seguro porto é que procura
pode tentar o outro lado 

que o meu  é mais o lança/chama

pra incendiar os teus navios
muito além dos temporais
acender língua de fogo
como um danado cão vadio
farejando as altas ondas
deste terrível mar bravio

*

como se sabe ou como soube
amor não cabe em calmaria
em outro nome nunca coube
e nem atlântico caberia
quero beijar teu mar de búzios
e até teus seios comeria
ao mergulhar por entre as coxas
beber teu mel na maresia

                     entretanto


eu tenho sede
eu tenho fome
eu tenho sede de canto
eu tenho fome de conto
assim quando me encontro
ou desencontro
canto e conto
a música do desconcerto
o conto do desencanto
e no entanto confesso
que não sou triste
um poema ainda existe
pra me animar do desconforto
para me salvar do entretanto
pra me acertar no desconcerto

 

             musicado por Paulo Ciranda

                         entre os lençóis


teu cheiro
é como formigueiro
atiça meus sentidos

como disse paulo leminski

sentado não vale a pena

não tem ápice no poema

o desejo pulsa de pé

para atingir os sustenidos

 

                  Federico Baudelaire

     meio carioca

 meio portuguesa


irina ontem estava assim meio formiga meio borboleta caminhava no trilho em linha reta nos laranjais de assombradado

:

- foi aqui que conheci uilcon amor a primeira vista mergulhei em mar de letras em cada lavra da palavra signo anti/moralista

irina me provoca calafrios quando despe os seus sentidos nos parangolés de oiticica sem a mãe das arte manhas a arte no brasil como é que fica?

no carnaval da verde/rosa a cruz de malta vascaína meio brazuca meio guesa nem sei dizer se é carioca nem sei dizer se é portuguesa

 A Filha do Visconde 

 

chegou agosto mês dos cachorros loucos sabemos  não são poucos não sou Leminski mas também sou minha rolerfllex já fotografou no bordel da quinta tudo desandou o que me importa se atrás da porta ela me espera nua pra viajar pra lua  ou nem sei pra onde a filha do visconde se enfiou no bonde desbundou para  mauá saiu dos trilhos foi parar  no palco da pornofonia quem diria

terminou no Irajá

  

no coração dos boatos 

 quando avistei pela última vez os telhados de assombradado tudo era desolado micheque matou as carpas roubou as moedas da fonte o povo tinha sumido da praça dos 3 poderes Federico vomitava notas de 5 nos botecos de recife fazia mais de 2 anos que não via Santo André quando saí de Araraquara fui direto a Tietê na farmácia dos desejos nem farinha de tapioca na aldeia carioca ela me deu conto de fadas mas merda da minha sogra comeu todo o brigadeiro que tinha guardado inteiro pra matar minha larica que o baseado de ontem foi pior que carnaval dia 3 de fevereiro  

 

o amor é cruel

sabe como é EuGênio Mallarmè quem diria foi dá em Paris debaixo da Torre Eiffel o amor é cruel já dizia Luiz Ribeiro cacos de vidro pés descalços já beijei o teu retrato minha linda Meg Lee 1975 na rua 21 de abril o sol entrava pela janela nem bem amanheceu na cidade alta que ainda não conhecia sua casa em Santa Teresa onde fez a moradia

 

tropicanalha revisitada

Lady Gumes estava sumida atrevida como sempre virou isca de polícia na saldanha marinho próximo a rodoviária roberto silveira quando beijando paulinho capeta na garupa de uma moto a mais de 100 por hora hoje um ano depois foi liberada do presídio e em homenagem a ela Pastor de Andrade rezará missa na Igreja Universal do Reino de Zeus às 10h. Todos convidados  

perverso

percevejo ataca

tudo    que vejo 

 

tenho visto muito gado pastando nos cercados outros ainda dentro do curral está chegando o carnaval alguns continuarão pastando outros ainda presos vão orar pra besta com suas mentes tortas vindo dos esgotos tanto gado escroto que não acredito que esse ser humano esteve um dia vivo 


girassol de van gog

 

isa sobreviveu enchente

um rio passou na porta da frente

            da sua casa beijou um girassol

de van gog nas pontas dos seus cabelos

no colo do seu vestido um peixe azul colorido isa mar sempre viva

carne fogo brasa pele de luz acesa

nas plumas de suas asas se dá adeus me arrasa embora não pareça

 me deixa sem pé sem cabeça

 

primeira cartilha

 Zé Limeira a primeira cartilha que estudei na tapera antes da terceira série primária quando me encontrei com Amália embaixo da bananeira quero aprender a nadar na montanha da mina geral pegar a nau pra Portugal ir parar em Blumenau atrás da filha do conde que se afogou no matagal lendo o vampiro catatau que encontrou na geladeira 

a pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
                                fedra
 

sagarânica


a palavra sagarânica
tem os seus mistérios 
o significado fica a seu critério

fulinaimicamente
te digo o som dessa palavra
cola as tripas no umbigo
 

 

ofertório 

todo meu senso político/social dedico a ela no livro que sou

enquanto coisa sensual metáfora

para os olhos de quem lê para os sentidos de quem vê

eu sou matéria argamassa armadura

permaneço de pé encaro o tempo

contra o vento contra a tirania da mordaça nada que eu não faça

para ela minha musa –  amor é cego

dou de graça

   *

o meu amor
não é  bicho
é  pássaro
afogado no lixo
  

 A Mulher Que Come Livros 

uma metáfora audaciosa - em um país onde a fome é o resultado da barbárie e os fascistas batem continência para ETs e cantam o hino nacional para pneus de caminhão, clarice mata  sua fome  seus sonhos e desejos comendo livros e me avisa enquanto não tem espelho na parede a gente improvisa  

eu estava aqui sozinho em meu cavalo branco  numa manhã de sábado  o sol ardendo a tarde e minhas mãos geladas nos lençóis de lã quando o telefone me tirou da cama e me fez pensar nessa manhã de louco todo mistério é  pouco eu quero essa hortelã na boca eu quero te beijar

fogo fátuo  fato fosse festa fulinaimagem também fosse essa minha estrela na testa onça maracatu rural tacape bodoque flecha essa minha linguagem, complexa onde a vida é vendaval no fundo do poço tudo enquanto posso fissura carnadura ossatura sonoridade dos ossos  

quando penso clara a alma do ovo gema signo intacto cabe a ela decifrar são 3 secretos de dante são 7 sagrados de bar cada  palavra lavrada a cada lavra bordada na costura do mesmo linho as vezes suor e cerveja as vezes chuva de vinho quando penso clara desejo penetrar o desconhecido por tudo que tenho parido

por tudo    quero  inventar  

da nascente a foz: um rio de palavras

                     poema em construção

nem sei onde mar vai desaguar  em que pá/lavras em que águas medulas algas em que marinhas cais ou mágoas cada palavra tem um que de firmamento cada delírio pode mais que o infinito cada grito muito mais que sacramento o silêncio não me basta em cada ato foto e fato existência sentimento só me tem se acredito 

corpo físico espírito

luta corporal formigueiro

salgueiro mangueira portela

escola samba música refavela

lapa cinelândia santo cristo

copacabana ipanema leblon

corcovado redentor  são conrado

ponte niterói baia guanabara

estágio  vertigem alquimia

teatro cinema poesia

jiddu tchello tanussi turiba

telma monica eugenia margarida

angel ricardo ingrid alice

ademir cesar claudinei

gil cetano gal cássia eller

dalila jurema zhôo carolina

adriano joilson alexandre

largo machado glória

catete castelo ocinei

lembranças estados memória

karla gigi mocidade

federika ouro preto vila rica

adriana sady marcela

américa avelima gillioli

fábio simone krihsnamurt

tonho tenório admilson

hamilton florianópolis curitiba

rio mar maresia

barco navio travessia

veredas sagarana ortografia

gramática livro disco harmonia

escrita cidade fotografia

igor dança pensamento

objeto predicado complemento

finalidade velocidade sagaranazes

campos cacomanga coytacazes

vampiro tupiniquim fechamento

reubes fulinaíma ribeiro

frevo xaxado  coco  pandeiro  

torquato geleia leminski

carne sangue fogo pano palha

baudelaire  mallarmè kandisnki

oiticica neville tropicalha

poema portifólio carnavalha

sexo amor virgindade

companheira companheiro virilidade

sarcasmo ironia castidade

padre pátria papa santuário

pornofonia pornografia  santidade

eros dionísio zeus apolo

vênus afrodite áfrica grécia

antropologia mitologia anarquismo

hipismo modernismo olimpia

mil novecentos cinquenta sete

quando ainda pivete

estética seca folha didi

classificação mundial campeonato

futebol gol que só eu vi

cores nomes pronomes objeto predicado 

tribo  indígena capixaba curumim

aldeia goya tacá amopi

serafina severina serafim 

filipe flora sofia isadora

arara iara dandara amora

marina brumadinho minas

mariana isabela irina 

nascente foz correnteza

paraíba ceará fortaleza 

paraíba ceará fortaleza

sergipe piauí pernambuco

eunuco salvador garanhão

acre maranhão tocantins

amazonas pará parintins 

pulga percevejo carrapato

rosa dália margarida alecrim

borboleta  alfazema bem-me-quer

relâmpagos ventania trovoadas

cata-vento rodamoinho tempestade 

sussuarana suassuna surubim

sabará itabira querubim

caipora canadá quixeramobim

andorinha passarada piedade

jardim zoológico tom jobim

drummond carlos  andrade

quixaba quixadá oriticum

gravata gravura gravataí

porta porteira paraty

pintura prateleira paraquedas

pérola parnaíba piabanha

parnaso paraíso piranha

quixaba quixadá oriticum

picanha paraopeba ocurum

ouvido orelha artemanha 

cosme damião doum

*  

marajá maracujá murundum

travessão conselheiro  vila nova

olinda recife garanhuns 

tapera ururaí guandu

goiaba graviola guaiamum

bomucado bracutaia brucutu 

curupira caranguejo caramurú

almandrade ilha bela paracatu

germina girafa girassol

arquitetura arquiteto armorial

fogo farra festa futebol

vassourinha frevo carnaval

bola búlica boleto

bárbara bruna polleto     

passeio passeata passarelli

manifesto martinália marielle

ramisson augusto brettas

faustino severino borboletas 

 tamanduá tremembé tucuruvi

antônio roberto góis cavalcanti kapi 


* 

na carne da palavra

         nasce o poema

                entre ossos 

cataventos

para Tanussi Cardoso  

o rio de palavras segue a todo vapor  tanussi não é barato trato ás águas com apreço palavra inventar custa caro mesmo assim nunca desisto aqui mesmo dou exemplo rio mim rio de dentro rio que vem de fora morro lá muito longe estando aqui muito perto vivo rio no centro esquerdo de cada esquina curva de cada peito tanussi um dia me lembro um rio assim Sagarana fulinaíma inda invento o que antes nunca  dito nas árvores  secas do outono nas hélices dos cataventos 

 performance

para Luis Turiba 

na trans-piração a prova dos nove onde o poema se comove no sobrenome do abstrato bem no  fundo do retrato as linhas curvas do concreto nos corredores do mam que polock lambuzou no aeroporto  do flamengo que a dona portinho projetou o ano não sei ao certo helena nunca me disse que sua tia arquiteta amava  o nome  poeta que em teus seios mergulhou ainda hoje admiro palavras a qualquer preço signos a qualquer custo o nome das coisas um susto como nos desfiles do samba o complemento

:

adereço 

           A filha  do conde


filha do conde – a outra saiu do Irajá pra Madureira madrugada de sexta-feira mergulhou na baia do estrangeiro pensou ser Garota de Ipanena gritou na porta do cinema : “eu sou a outra que Vinícius de Moraes cantou com Baden Powell no samba para Ossanha eu sou estranha pense o que quiser não sou Nanã sou filha de Iansã um fogo de mulher" .


carnadura

nos anos 90 recebi em um texto de Jommard Muniz de Britto sobre o portifólio CarNAvalha Gumes, a palavra carnadura que ficou dançando em pensamento e como bem diz Igor Fagundes: “pensamento dança. Ela rima com rapadura, formatura, ossatura só não rima com ditadura. É lá no fundo do poço que extraio tudo  quanto penso . Carnadura são fibras das nervuras entre/ossos quando berro alto contra tudo que é desmando no silêncio do desassossego. 

penso

o abstrato no sonho

e ponho o concreto

no sonho do abstrato  

o risco 

atravessar as portas ultrapassar janelas paredes muros cidade o risco de te matar saudade dentro da boca que quero de penetrar garganta laringe esôfago estômago enquanto dançamos bolero sendo um tango enquanto fado arrisco o beijo guardado num copo de vinho ou de menta sabor de pimenta e alho e o doce mel da pimenta enquanto a palavra entra pelos teus olhos e abras teu cais do porto lacrado arrisco meus dedos e dados nos lances mais atrevidos dos nossos sextos sentidos por tudo que foi esperado 

 

poema abstrato

 

bala perdida

acerta sempre

o alvo desejado

 

poema concreto

 

objeto in-direto

direto

             no objeto 

 

o desejo da fome

 

 ela não era apenas

carne para a fome
do desejo
ela era o próprio desejo
da fome
estampada em letras grandes
na foto grafia do teu nome

 

vamos comer vinte dois

 

ela continua sendo

tudo o que não sei

a mulher que eu quis

             mas não amei

                       *

vamos comer vintedois

cem anus depois

é ela que  eu  quero

no teatro na música

no poema no cinema

revirando a tropicalha

no fio da carNavalha 


porque hoje é sábado 

há um traficante de armas travestido de deputado porque hoje é sábado há um jesus no asfalto esquartejado porque hoje é sábado há um deus negro no quartel ensanguentado porque hoje é sábado[ há um bordel na praça dos 3 poderes no planalto disfarçado porque hoje é sábado há um lance livre na quitanda do mercado porque hoje é sábado há um beijo na boca do amor desesperado porque hoje é sábado há um bacanal no barraco do templo alado porque hoje é sábado na casa dos fundos dormem as cafetinas do senado porque hoje é sábado

Irina ontem me perguntou se eu estava bem. Em relação a segunda sim, acho que o ofício de poeta me refaz. Enquanto isso Irina vem e vai como uma rima levada pelo vento sem tempo de captar 


contragosto

 

nasci em agosto

a contragosto

pai não me disse

       mãe também

o preço da vida

o remédio pra ferida

o custo em cada missa

           pra dizer amém

 

o último goytacá

 

quando te tocar

é para alvoroçar os teus cabelos

eriçar teus pelos

molhar os teus mamilos de saliva

                         com essa língua viva

 aqui na minha boca

 

o último goytacá

       coisa muito louca

 feiticeiro – resistente

mastiga os mamilos da musa

armado de poesia até os dentes


Agora que Isadora em mim amoras

no pomar da minha casa  meu corpo incêndio no barril é pólvora a carne em chamas no esqueleto brasa o fogo acende os pavios entorpecidos e o instinto volta a fazer parte dos sentidos

                  poética 44

 

na pedra do sossego
eu me abstenho

na pedra do sossego
eu me abstrato

na argamassa dos teus olhos
me preservo

 

na pele dos teus dedos

meu barato

nos mamilos dos teus seios
me concreto

no cio do teu corpo
eu me retrato


Poética 88


gosto dos tecidos que cobrem a pele das ovelhas gosto do mel do útero das abelhas nem sempre o vinho em meu altar é sacrifício o meu ofício em Passo Fundo o sobre nome é mais sagrado que a cópula nas igrejas não sei o nome que se dá a tudo isso só sei que gosto de estar com os olhos fundos no mais profundo do orifício

                            Pastor de Andrade

              são sebastião do       sacramento

 

fosse muito mais  que uma jura secreta poema em linha reta  nos vales do café  às margens da 040 nas Minas do Espírito Santo  entre uma linha e outra  da estrada do encontro muito mais que fotografia  a pele na grafia do dia que amanhece na porta de uma igreja da noite que viemos

fosse muito mais onde estivemos 
e quase não tocamos  a lua no espelho  no poema que escrevesse  por quanto muito mais se quisesse 
ou esquecesse

                 

linguagem

 

o que vai

de um lado da ponte

a outra

é o que sai da boca

o que entra é a língua

a que entorta

beija sem pedir licença

chupa morde goza

na entrada e na saída

sem ter adeus na despedida

                 Metáfora Fulinaímica

 uma garça apática e pensativa procura alimento no Manguezal em Guaxindiba. Mas caranguejo não há. Está difícil está tudo muito difícil está cada vez mais difícil está muito mais difícil como diria meu amigo grande poeta português Fernando Aguiar: está dificilíssimo!

 

                                          Irina Serafina

 

nos meus delírios baudeléricos

mesmo se fossem baudelíricos

sonho teu corpo flor de cactos

    como se fossem flor de lírios

BraziLírica Pereira 

: A Traição das Metáforas

certa vez em assombradado tive uma puta princesa do meu lado e a puta que pariu o presidente dos mil cheques tinha feito sua cama nos telhados da alvorada e a puta mãe depois foi descoberta vendendo alguns saquinhos de pó branco nas estradas vermelhas do planalto central de brazilírica lá pelas bandas da groelândia tupiniquim da bertolínia aziática onde nem pó de guaraná faz mais efeito estava escrito num para-choque de caminhão que trafegava pela estrada na direção transamazônica


inquisição:

por sermos duas metáforas novas, frescas, gostosas, desoprimidas e sem qualquer pseudo complexo de fidelidade é que estamos aqui em brazílica pereira, por sugestão da uilcona biúka diante desta outra inquisição. não, ainda não fomos apresentadas a lady federika bezerra.

mas, a conhecemos pela sua fama internacional de porta/bandeira. macabea não pode se sentir frustrada pela nossa decisão de estarmos aqui neste confessionário, primeiro, porque não temos, e nunca tivemos nenhum compromisso com ela, segundo, é que alinhamos em outra frente liberal, e desfrutamos de todo direito de ir e vir, ter e dar prazer, gozar da forma que melhor nos convir. sexo? é uma opção  de gosto mesmo. até no palco, por quê não? irônicas? sim, nosso mestre serAfim nos ensinou que do sarcasmo nasce a grande arte. mas o importante é que nós como metáforas não precisamos estar somente em entre/linhas, estamos também nas entre/tuas entre/minhas, e não se trata de traição, procuramos fazer algo diferente, por exemplo, do que já vimos em filmes de Godard, construídos em larga medida só com citações e referências, apoiamo-nos nas coplagens como elementos  básicos para ultrapassá-los e transcende-los. agimos como uma espécie de conspiradoras conscientes dos bens culturais e materiais que nos pertencem como patrimônios da humanidade.

               uma outra

não deveria, portanto, macabea vociferar aqui sua ira, acusando-nos veladamente de traidoras, sem assumir de fato em atitude pública a destilação desse veneno como palavra que não entra em cena.

as belas letras, para nós, começaram através das letras belas, narcisas pelos próprios nomes: metáforas, e por fidelidade a federika não traímos macabea, apenas não fazemos  parte de uma mesma concepção de que a palavra parte e as letras que pretendemos belas não são simplesmente nossas, muito menos dela. podemos constatar com gratidão que emergem das lendas, fábulas, crônicas e contos, poemas de uma visão de mundo bem nítida e pessoal. talvez, quiçá, quem sabe única reflexão de ruidurbanos, restos de gravuras e resíduos tipográficos. ou seja: uma série de gestos amorosos eróticos de novo, repletos de ironias sensuais, doce fervor, fogo de malícias explosão e gozo. por sinal, diga-se de passagem, que essas dimensões éticas, jurídico-morais, nunca nos interessaram. nossas relações com a propriedade privada, em todas as suas formas e    cristalizações históricas, sempre foram tranquilas e sem remorsos.

 

o dia passa
a noite passa
poesia passa
passagem passa
cerveja passa
conhac passa
música passa
poema passa
desejo passa
paisagem passa
vinho passa
a uva passa
a vida passa
a viagem continua


um peixe com os olhos esbugalhados e a boca escancarada de batom tenta me comer porque sabe que carne humana tem um gosto muito bom não é ave de rapina mas tem asas de neon na parede nada me conforte quatro pernas uma vassoura um mansinho saio de mansinho para não ser devorado pela natureza morta

 

                                   zanzalar


um desafio para se caminhar é sal é pedra carvão é mar na borda do campo paranapiacaba morde o calcanhar de três cidades não santas mas nada disso me espanta para na mata atlântica pedalar

se enfiar novamente no mato curupira carrapato pirapora comer do verde que na mata inda restou ouvir da mata tom jobim no seu cantar na língua do sapobemba no bico da sabiá que ainda não cantou beber da água da bica do lago billing e de toda natureza virgem/selvagem voltar a me alimentar


e se eu tivesse você entre talheres e xícaras as coisas que vejo ao lado da televisão um quadro de picasso na parede dois edifícios frente ao elevador e se estivesse em são luís  amaralina salvador teria você do mesmo jeito a remexer dentro do peito e ainda não sei o que fazer com esse amor e se falasse com deus ele dissesse mergulhe na piscina e volte limpo para ter espírito santo poder cantar todo esse canto que um bom  josé anunciou um encontro imaginário pelas águas itabapoana paraíba tietê daria o quê? uilcon sacilotto novo broto que brota da lama  numa cama de retalhos que o moderno      não cantou

          girona

                para Rubervam Du Nascimento

 

vou-me embora pra girona

lá tem caminhos de sal

não precisamos obedecer

as ordens de portugal

nem de um outro rei qualquer

vou-me embora pra girona

aqui roubaram

tudo que eu tinha

e tem supermercado

em especial de natal

vendendo pé de galinha 

vou-me embora pra girona

a carne seca no telhado

as gordas coxas da madona

o rala buxo no mercado

os grandes bailes de sodoma

nem servem mais com farinha

 vou-me embora pra girona

 lá tem matriarcado

 alegria no mercado

e um carnaval de mulher

e todas flores do mal

 são pétalas de um bem-me-quer

              VeraCidade

 

pedra de toque

pedra de rock

veracidade meu bodoque

tem seu preço

na minha idade esta cidade

ainda não conheço

até hoje

ninguém soube escrever o endereço

desde os tempos

das colônias dos impérios

dos tropeiros dos tropeços

 

irina passeia à beira mar vestida de maresia beija no vento o sal do suor da pele nua quando senta na pedra do sossego gozando a liberdade de ser unicamente sua


vou-me embora pra girona

 lá nina Florbela me ganha

com um soneto me espanca

 e um cogumelo espanhol

e os girassóis de Van Gog

       giram em torno do sol

 

                  EuGênio Mallarmè

 

hoje amanheci torquato

mesmo que ela não me queira

quero o amanhã de quatro

ainda que não seja terça feira

ainda que não seja só desejo

quando essa manhã desponta

nem que seja na lança de uma ponta

nem que seja numa ponte para o beijo

quero essa manhã por todo sempre

                     a flor delírio que desejo


vou-me embora pra girona

hoje me largo de mim

boto  iriri na lona

com minha carne tupiniquim

para enrolar os espanhóis

nos retalhos imortais do SerAfim

jogo na  cara do rei

rapadura e aipim

e grito na cara dela

fui eu mesmo quem pintou

a porta de entrada da favela

          com cuica e tamborim

 

                  Rúbia Querubim

 

surucabano

 

chiriquela gata magrela

com sua boca da guesa

me pergunta da janela

por sua mãe portuguesa

dandara a psicopata

de família  irlandesa

traiu a confidência de zapatta

no carnaval pernambucano

matou o pai numa  gravata

e se alistou no exército mexicano

 

                        Federika Lispector

 

vou-me embora pra girona

lá helena louca de espanha

 me espera no cais do porto

já me larguei de quipari

para alguns parece

 até que estou morto

mas confesso : ainda  estou aqui –

 

                        Federico Baudelaire

https://www.instagram.com/p/DKmPeiiu0vC/

         pedra / marcada

tendo estado desa(r)mado
nas quebradas muito reggae
tenho andado muito são
maldição – o diabo que carregue
sexta feira fui a meg
ler as cartas do tarô
no jogo de dados deu dez
no jogo de búzios deu doze
nas cartas do tarô foram sete
segunda leitura quatorze
não brinco com coisas secretas
no jogo das cartas sagadas
meg assim decifrou

:

o mito aqui não é grego
o deus aqui é xangô
afrodite me disse que não
vênus me disse quem sou
zeus me disse quem sabe
destino é carta marcada
na pedra do redentor
um dia você encontra
os olhos do seu amor
no alto do corcovado
ou na pedra do arpoador

                           EuGênio Mallarmè

esta

mos

sum

índios

 

          Zhô Bertholini

 

Brazilíndios

 

foi-se a era

de belos índios

índios belos

ensinando

forma de viver

na amazônia

hoje

a selva sangra

agro negócio

soja pastos

novos sócios

             para o gado

                    paralelo 

 

Posfácio de Artur Gomes

                                                               Renata da Silva de Barcellos

(Pós-doutorado em                  

                                                                             Literaturas – CEJLL – NAVE RJ)

Nesta obra intitulada Itabapoana Pedra Pássaro Poema, Artur Gomes possibilita o leitor navegar em diversas áreas do conhecimento: Literaturas: “quando Rachel escreveu quinze meus olhos doeram nos olhos”; Música: “Joilson Bessa me disse Kapiducéu já ensaia Macunaíma vem vindo no Auto do Boi Macutraia” e “misturei meu afro reggae a muito xote do xaxado ainda fiz maracatu maxixe frevo já juntei ao fox trote quando dancei bumba meu boi em pernambuco fulinaíma é punk rock rasgando fados em bossa nova feito blues para pintar a pele branca de vermelho e repintar a pele preta de azuis”. Um verdadeiro passeio por diversos gêneros. Não poderia faltar o samba “do azul/marinho da Portela o verde/rosa da Mangueira”. E Artes plásticas: “levanta natureza morta você não é Cubismo de Picasso nem Surrealismo de Dali diante os cabelos de aço de Frida Calo”.

O poeta utiliza três palavras-resumo: poesia alquimia bruxaria. Essas sintetizam a essência dos seus poemas. De fato, alusões (“helena me deu um cavalo de pau”) e citações (“se foi Cândido Portinari quem pintou as portas de entrada da favela ou se foi Rúbia Querubim”) são “misturadas” ao tom crítico (“só come o pão que o diabo amassou portas sempre fechadas na cara do trabalhador grandes fortunas livres de impostos projeto para aliviar o bolso do povo câmara dos deputados rejeitou”). Dessa forma, surge seu estilo próprio no qual seus textos são ricos em referências, possibilitando o leitor com um bom nível cultural a se deleitar em novas possibilidades estéticas de poesia. Através delas, podemos constatar seu posicionamento político “contra o poder da tirania” como em (“eu sou matéria argamassa armadura permaneço de pé encaro o tempo contra o vento contra a tirania da mordaça nada que eu não faça”).

Uma das características da poesia contemporânea é a experimentação “sem existencialismo cansei dos ismos pós concreto”. Gomes faz diversas alusões ao poeta francês Charles Baudelaire, considerado o pai da poesia moderna, a partir de 1848: “nasci federico DuBoi de Baudelaire da caneta de um poeta que não...”  e a Mallarmé com as experimentações como em Um lance de dados. Na atualidade, compreende-se a língua como “plástica e maleável”, permitindo criações por Gomes como: “A pá-lavra poesia” – “leminsk i Ando”- “se FlorBela ainda vive” e “em carNA val meu olho disse:” Também é marcante a força pela surpresa lexical com neologismos “brasilírica”. Assim, utiliza alquimia para desbravar novas formas de linguagem como em: “ sagarânica” (A palavra Sagarana é um neologismo que une o radical germânico “saga” cujo significado é "canto heroico" ou "lenda", com a palavra tupi “rana”, sentido "que exprime semelhança" e o sufixo "-ica" é um sufixo nominal de origem latina). Essa é uma das marcas desta obra. Observa as palavras para decompô-las como em “primavera” criou “Ana à Vera” a fim de recriar e expressar novos sentidos.

Outra marca da poesia contemporânea é valorização da intertextualidade, um recurso linguístico que já havia sido observado na corrente modernista. Exemplo: que não sou triste um poema ainda existe pra me animar do desconforto para me salvar do entretanto pra me acertar no desconcerto”. Salve, salve Cecília Meirelles!

Faz alusão a fatos históricos para crítica social como a chegada do português (“enquanto na primeira missão galo camões bem galinha chocando o ovo do índio ou pero vais que caminha”) e a Independência do Brasil (“no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza Leopoldina”). O poeta conduz seu leitor a refletir sobre diversos acontecimentos também.

Dessa forma, trata-se de uma obra primorosa na qual o autor demonstra o poder de articular diversas áreas do conhecimento. E de um belo exemplo da

Poesia Contemporânea. Vale a pena a leitura!!! Sugestão: utilizar em sala de aula para aprimorar o conhecimento de mundo dos alunos. E viva a POESIA

CONTEMPORÂNEA!

Renata Barcellos - Pós-doutorado em Literaturas – CEJLL – NAVE-RJ)                 

                Artur Gomes - minibio

poeta.ator.produtor cultural vídeo maker

2023 – Criou o projeto Campos Veracidade para a  Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima onde atualmente atua na coordenação cultural em Campos dos Goytacazes-RJ

 De 1975 a 2002 – Coordenou a Oficina de Artes Cênicas da ETFC – CEFET-Campos – IFF Instituto Federal Fluminense

 Em 1993 – criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade – 100 Anos – realizado pelo SESC-SP

Em 1995 – Criou o projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP

 De 1996 a 2016 – coordenou o Departamento de Audiovisual do Proyecto Sur Brasil – Bento Gonçalves-RS – realizando Mostras  Cine.Vídeo  na programação do Congresso Brasileiro de Poesia.

 Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, projeto que é realizado até hoje pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima.

 De 2014 a 2016 – Dirigiu Curso de Artes Cênicas no SESC – Campos

  Em 2018 e 2019 lecionou no Curso Livre de Tetro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima.

 Em 2018 participou como convidado do I Festival Transepoéticas no Museu Nacional de Brasília-DF

 2021 - Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada que é realizado na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual no facebook

https://www.facebook.com/studiofulinaima

 2021 –Integrou a Mostra Bossa Criativa – Arte de Toda Gente – realizada pela FUNARTE-Rio

 Curador da Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada realizada pelo SESC Piracicaba –

2022 - produziu e coordenou na Santa Paciência - Casa Criativa, em Campos dos Goytacazes-RJ o projeto Geléia Geral - 22 - 100 Anos Depois.

2023 - 2024 - produziu e coordenou o Sarau Sarau Multilinguagens - no Museu Histórico de Campos dos Goytacazes-RJ e no Palácio da Cultura.

2023 - lecionou poéticas no Curso de Teatro de Rua na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima - Campos dos Goytacazes-RJ

2024 - Dirigiu a Oficina de Poesia Falada no Palácio da Cultura em Campos dos Goytacazes-RJ

leia mais no blog  

https://fulinaimargem.blogspot.com/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Itabapoana Pewdra Pássaro Poema

           Itabapoana Pedra Pássaro Poema  * poesia alquimia bruxaria   o rio com seus mistérios molha meu cio em silêncio   A...