Itabapoana Pedra Pássaro Poema
*
poesia alquimia bruxaria
o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
Artur gomes – rio em pele feminina – Juras Secretas p.
27
“hoje não tem fernando pessoa”
Caetano Veloso
in é proibido
proibir – 1968
choveu pedra em São Francisco do Itabapoana se de gelo ou
granizo inda nem sei só depois da apuração da comissão de inquérito instaurada
por alguns moradores da localidade do
Macuco saberei.
Federico Baudelaire
cada qual com sua Natureza , pode
ser garoa ou correnteza , é o tempo comandando a sua Fortaleza
Zhô Bertholini
CAVOUCANDO A TERRA
Wilson Coêlho
A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.
Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia, como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.
A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal.
Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade.
Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos
diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de
entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da
poesia extemporânea.
Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em
Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”. Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina.
Itabapoana Pedra
Pássaro Poema
eu nasci concreto
na horizontal - ereto
depois fui me abstraindo
me substantivando me substituindo
criando outros e outras criaturas
em minhas estruturas amorais do ser
eu nasci assim e fui me associando
a outras escritas as que foram ditas
a outras não ditas
as benditas as malditas
as que disseram minhas
e a outras que raptei de outros
pela minha nova maneira
natural de ter resistência a toda
qualquer coisa que não
é
e as que são coloco como cartas
sobre a mesa para surpresa
de ver que todo santo dia é dia d
meu corpo não trafega
nas
tabacarias de lisboa
o
poema pode ser
um
beijo nessa pedra
antes que me fedra
o poema voa
traição grega
helena me deu
um cavalo de pau
me jogou no vento
me pegou em troia
me roubou a jóia
me deixou em trento
libertinagem
tudo entre nós é fresta
antes depois da festa
que ainda nem começou
inútil explicar o poema
o Dedo de Deus
estrela do mar
serra da Mantiqueira
inútil tentar entender a
beleza
do azul/marinho da Portela
o verde/rosa da Mangueira
inútil querer saber de mim
se FlorBela ainda vive
no outro lado da janela
ou nos Retalhos Imortais
do SerAfim
se foi Cândido Portinari
quem pintou as portas de
entrada da favela
ou se foi Rúbia Querubim
parece-me apodrecida a
argamassa nos parâmetros dos palácios a massa só come o pão que o diabo amassou
portas sempre fechadas na cara do trabalhador grandes fortunas livres de
impostos projeto para aliviar o bolso do povo câmara dos deputados rejeitou
Federico Baudelaire
“Sem eleições gerais, sem
liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre debate de opiniões, a
vida se estiola em qualquer instituição pública, torna-se uma vida aparente em
que só a burocracia subsiste como o único elemento ativo.”
Rosa de Luxemburgo,
A Revolução Russa, p. 97.
cica de caju com cajarana
cajuína não tem gosto de cajá como me.disse catarina ouvi raul tocar jobim em
teresina numa mesa do mercado era casulo no caos até que música inaugurou a coisanova
em caetano foi então caí de quatro com
seu hélio de torquato
EuGênio Mallarmè
não tente me apagar
nem me esquecer
tenho memória de elefante
você vai enlouquecer
nessa terra de gigantes
da imperial tropicanalha
entre a cruz e a espada
a faca e a carnanavalha
não me desligo um só instante
do que possa acontecer
Artur Kabrunco
A
Pá
lavra
a pá/lavra poesia - a primeira vez que grafei a palavra dessa
forma foi em Couro Cru & Carne Viva - 1987 - e as referências que aparecem
até hoje em minha poética começaram a surgir em 2000 no livro BraziLírica
Pereira : A Traição das Metáforas
um lance de dados
doze e quarenta
e seis
mallarmè
na hora incerta
dormindo
visível na besta
sinal inviável
na quarta
dedo de deus
na segunda
jogando dado
na sexta
leminsk i Ando
só olho ana à vera
faça outono ou primavera
quantas eras quantas anas
em carNA val meu olho
disse:
ana à vera vera ana ana clara
claralice
vejo ana lendo Eunice
quando li eu vi lua na
e
ana ali só vi lia ana
ana/verso anAlice
B no coração dos boatos
isso aqui não é a hora da
estrela, minha mãe não é alice.
que apesar de freira, de
hábito, só tinha o vício de me prender por entre o crucifixo colocado entre as
suas pernas.
macabea vivia falando sozinha pelos corredores federais da
outra inquisição.
conseguia de vez em quando reunir alguns habitantes mal informados sobre a ressurreição das artes aromáticas , e passava o tempo querendo mostrar seus dotes culinários nua e crua.
estuprada pelos
estivadores daquele cais do porto tentou arrancar o sexo com as unhas e
enlouqueceu uivando como loba amarrada a santa cruz
de uma cabrália velha igrejinha
enquanto na primeira missa
o galo camões bem galinha
chocando o ovo do índio
ou
pero vais que caminha
Itabapoana
Pedra Que Voa
dia
desses sonhei com alquimia
ciência da transformação
na prova dos nove é alegria
o coração da pedra vira pássaro
e voa para outra dimensão
balburdiar
eis o verbo
ver
pra crer
:
difícil de falar
ótimo
de fazer
amor
balbúrdia
gozosa
jorrando
poesia
enquanto goza
*
fazer
balbúrdia
jogo
de cartas
sem
baralho
:
dá
prazer
mas dá trabalho
curta brisa
não tem jeito
a vida é uma fera
quando menos se espera
uma hora qualquer
a máquina dá defeito
então o que me resta
para não perder o fim da festa
- fechar a boca
cortar um kilo disso
outro daquilo
e nada de comer aquilo
porque o vento me avisa
a melhor coisa é comer a
brisa
curtir a atriz enquanto ela me desliza
minha irina toda via
é travessa e atravessada
em transversas travessias
trepa sempre nas esquinas
contra o poder da tirania
*
no
princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a fricção e aí começou a
invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das
fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas
alguma paisagem na janela da viagem toda via quando lia o lado b me transmutando em alquimia
a selva de concreto fala pelos seus poros ela veio
de outra mata virgem agora devorada pelos dentes da cidade irina evapora
não chora mamãe não chora a vida
é assim mesmo inda não fui embora
meus 7 sentidos
fulinaíma me veio no vento um instrumento invento para acrescentar a minha escrita para escancarar a minha fala percorria a bandeirantes quando me dirigia para campinas com oficina de artifícios e não sei em que ofício a pedra do rock rola a pedra do vento voa depois de um instante qualquer que seja o estalo nos meus 7 sentidos já perdi a conta do tanto faz então pra mim tanto fez o faz de contas que me quiseram impor sem ao menos saber se quero o tempo ajusto as pedras que rolam meu calcanhar é testemunha em toda veracidade verdade deve ser dita em qualquer tralha da cidade porque bem sei por quantas trilhas já trilhei para chegar até aqui
jura secreta 102
a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que te veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de amsterdã desvendar hollandas
e os mistérios da palavra por entre o nó
dos cotovelos
muitas vezes
descrevo minha musa
num poema menos lírico
mais intenso
mais irônico menos penso
muitas vezes
quero estar em alfa
mas estando em beta
a massa do abstrato
na argamassa do concreto
minha musa é linha curva
não poema em linha reta
nasci no dia nacional do samba talvez por isso aos 15 entrei para
mocidade independente de padre olivácio – a escola de samba oculta no
inconsciente coletivo instituição criada pelo intrépido artur gomes kabrunco uma filial da igreja universal do reino de
zeus pastor de andrade o antropófago não anda muito satisfeito com meu
comportamento a frente da bateria da escola mas como sou capixaba e não amo
capixaba e a única coisa de capixaba que gosto é a torta de frutos do mar e o quibe de peixe amor com capixaba não faço
já disse isso milhão de vezes mas faço amor não faço guerra e quem quiser que
me queira por esta selva inteira
Rúbia Querubim
poéttica
imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu de vista na estrada
translúcida
levanta natureza morta você não é cubism0 de picasso nem surrealismo de
dali diante os cabelos de aço de
frida calo muitas vezes vejo muitas coisas ao
mesmo tempo na fotografia dou um corte no
pensamento para que o vento me traga
o norte levanta
pássaro sem sorte o passo em falso
o cadafalso predestinada a sina
em sua morte
tenho andado vermelho de sangue caranguejos explodem no mangue boca da barra guaxindiba gargaú balas pipocas nos becos na corda bamba do hemisfério sul tenho andado nas tralhas das trilhas vendo fantasmas nos telhados e o caroço desse angu nas entrelinhas dos tratados com cascavel surucucu quem foi que disse que essa terra é santa ? quem foi que disse que isso aqui é ilha? só pode ser filha da outra a que pariu o boi zebu
pedra pássaro poema
era uma vez um mangue e por onde andará Macunaíma? na sua carne no seu sangue na medula no seu osso será que ainda existe algum vestígio de macunaíma na veia do seu pescoço? tá no canto das sereias tá no rabo da arraia nos becos nas favelas na usina sapucaia? na teoria dos mistérios dos impérios dos passados nas covas dos cemitérios desse brasil desossado? macunaíma não me engana bebeu água do paraíba nos porões dos satanazes está nos corpos incinerados na usina de cambaíba em campos dos goytacazes macunaíma não me engana está nas carcaças desovadas na praia de manguinhos em são francisco do itabapoana
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inquieto procuro mais uma palavra cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da palavra polifônico sinético poema biotônico ressigni –ficar cada lugar na sua coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu diário escrito em aramaico me persegue quero mais que o quiabo vos carregue uma tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã filosofia lembra daquele dia dezembro mil novecentos e noventa e quatro?
itabapoana
pedra
de toque
língua
de rock
blues
bodoque
não
gaste seu silêncio atoa
um
beijo nessa pedra
e a palavra voa
pohermeto oswaldiano
que a cia das letras ainda não publicou
pedaladas ao mar
quando invento
poema ao sabor
do vento
as mambucabas quando chegaram em santa clara traziam pimentas caiçara conchas vermelhas de ubatuba salsinhas de itacoatiara miçangas azuis de são luiz do paraitinga trilhas da serra de paranapiacaba muitas garrafas de pinga para as mesas do interventor godot não perdia tempo metia a boca na moringa pensando que era um coringa dos bailes do imperador tomava banho em guaxindiba enrolado nos trapos do enxugador
a flor do mangue
para cristina bezerra
um dia em gargaú
atravesso para o pontal
onde o paraíba beija atlântico
num ato transexual
outro dia na barra
onde o itabapoana
é quem beija o lixo atlântico
penso quântico caranguejo
é o beijo do desprezo
são francisco não me engana
sagaranagens que faz comigo
eu procuro a flor do mangue
no litoral do teu umbigo
*
são francisco um cisco risco de mergulhar no precipício saltar o muro na porta do hospício risco traço de palavras tortas palavra que não dizem nada risco de perder a curva e seguir a linha reta medo é uma forma concreta de agarrar o abstrato
Itabapoana Pedra
Pássaro Poema
uma metáfora
não é apenas uma metáfora
quando a pedra é pássaro
em gargaú
às 5 horas da tarde
as garças voam
em direção
ao outro lado da pedra
em guaxindiba
tenho em mim
que pássaros voam
peixes nadam
quando procuram
outro pouso
bracutaia eterna lenda
estranho pássaro
da pedra ouviu o grito
que voou de gargaú pro infinito
*
o caramujo mordeu a língua de clara sangrou até o dedo grande do pé pedalava pela vinte e oito quando vi o alvoroço frente o circo portugal elétrico com seu teleférico eletrizante ponte para travessia caminho para o nada tenho agora imensidão de palavras enferrujadas procuro fórmula farmacêutica para uma palavra drummundanamente limpa além da sagaranagem delírio pouco é bobagem
*
tinha seca quando rachel escreveu quinze meus olhos doeram nos olhos de
quem doeu conceição não entendeu os olhos de Vicente cordolina de repente abriu
a cancela
o gado se perdeu pro carrapato chico bento se mandou pro amazonas o quintal
não me abandona também nasci do mato
cacomanga da tapera a vida nunca foi dada a quem a vida inteira espera
*
estava assim ankara meio sorocaba meio araraquara perdido entre a turquia stella guanabara mário tinha febre quando inventou macunaíma numa semana não santa também tenho febre na garganta e me espanta o adiantado da hora
batismo de fogo
quando
te encontrar
não
sei o que irá
não
sou de irará
nem
irerê
mas
imagino
o
que possa acontecer
na
confissão
não
sou luiza possi
mas
amei zizi
cantando
salgado
maranhão
quando
for imperatriz
será
os sete pecados capitais
lancei
os Búzios
e no jogo deu lília diniz
eu nasci na
cacomanga - confesso
nasci federico DuBoi de
Baudelaire
da caneta de um poeta que não
escrevia poema em linha reta muito mais torta enquanto curva nos aceiros dos
canaviais da cacomanga aprendi que antes arte do que nunca só ela salva assim
quando pessoa descobre que não vale nada a mais valia do estado que amassa a
massa do proletariado que não teve a sorte de ser filha dos donos dos palácios
pra mudar a dura sina de quem já nasce favelado
ainda não disse que te amo mas não se assuste o beijo está guardado debaixo dos tecidos que cobrem o esqueleto à flor da pele na carne onde a palavra mora e a lavra aplaca qualquer ferida deixada por alguém que já foi embora muitas coisas muitas vezes tão distantes me parecem tão presentes que o ausente evapora como éter eternamente simplesmente o rio escorrega por entre pedras e seixos e a vida segue o curso da corrente numa boa a pedra que rola sob o leito d´água muitas vezes voa
cracatoa
para Tanussi
Cardoso
esse poema
é um trato com a palavra
sem existencialismo
cansei dos ismos pós concreto
cansei o tempo não é reto
esse poema
é um trato com a palavra
sem objeto direto ou indireto
substantivo abstrato
cansei o tempo é o batom
de margareth em meu retrato
laranja cósmica
em são francisco de itabapoana não tem laranja cravo poukan ou mexerica como meus intestinos não vivem mais sem bagaço de laranja estou importando laranja do cosmo com minha astronômica luneta descobri fartura de laranjas em marte vênus plutão e o irônico é que em são francisco do itabapoana só tem laranjas nos telhados não tem laranjas no chão
mitologia sagarânica
salvador alisa os bigodes de dali macabea ensandecida morre ali mesmo em sucupira no presídio federal de brazilírica porcina mete a língua na faca de lorca as unhas sujas de irina cortam morangos mofados na fruteira enquanto odorico ordena zeca diabo a organizar o enterro das camélias diadorim sopra o cano da garrucha pendurada em seu olho esquerdo sagarânica em polvorosa comemora mais uma noite de são joão
mitologia brazilianas
breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza leopoldina perambulava distraída e preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo a sua afrodite de vênus
tempo de poesia
para Renata Magliano
lancei o tempo
na agulha de uma fresta
ainda bêbado de ontem
bebo as 35 pausas
de uma mulher em chamas
que ainda não conheço
o tempo me dirá o endereço
como metáfora ou alquimia
e sendo drama ou festa
tempo de poesia
é o que nos resta
assassígno
para Márcio de Almeida
na argamassa do abstrato
no abstrato do concreto
sou um vampiro
bêbado de sangue
assassinei os alfarrábios
para inventar meu alfabeto
travessia
quando atravesso
para outra cidade
em travessia
faço um traço
passo em travessão
transverso
como um verso
que ficou inacabado
era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?
tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?
Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia
fulinaimicamente
do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente
no improviso do repente
do som dessa palavra
fulinaimicamente
brasileiro sou pele de gato
brasileiro sou mesmo de fato
brasileiro bicho do mato
yauretê curumim carrapato
em rio que tem piranha
jacaré sarta de banda
crioulo tô na umbanda
índio fui dentro da oca
meu destino agora traço
dentro da tribo carioca
Jackson do pandeiro
Federico Baudelaire
nas flores do mal-me-quer
Artur Rimbaud na festa
de janeiro a fevereiro
Itamar da Assumpção
olha aí Zeca Baleiro
de olho no mundo cão
musicado e gravado por Naiman
FULINAÍMA
misturei meu afro reggae a
muito xote
do xaxado ainda fiz maracatu
maxixe frevo já juntei ao fox
trote
quando dancei bumba meu boi
em pernambuco
fulinaíma é punk rock
rasgando fados em bossa nova
feito blues
para pintar a pele branca de
vermelho
e repintar a pele preta de
azuis...
botei sanfona no rufar desse
baião
tambor de minas capixaba no
lundu
no paraná berimbau de
capoeira
dancei em noites de luau no
maranhão
mas em são paulo pedras
quando rolam
pelos céus de nossas bocas
meus irmão
fulinaíma azeita o caldo da
mistura
para fazer o que não jazz
ainda soul
porção de restos de alguma
partitura
que algum músico com vergonha
recusou
por ser estranho o que
naquilo descobriu
mas se a gente canta no
cantar essa ternura
é que mamãe mamãe mamãe
macunaíma
ainda chora pelas matas do
Brasil
musicado e gravado por Reubes Pess
há
tempos
não escrevo
um poema como esse
:
a formiga carregando folhas lembra-me a máquina
de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por
um imagem cinerbética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado
do espelho atrás da porta do meu quarto ainda quando teu retrato em Nova
Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre
Guima que cultiva em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo
Antônio que HygiaFerreira guarda para o casamento com ela aprendi que o amor
mora muito além da casa dos soldados Federika rasgou o vestido
de Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com
Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do
outro lado não percebi em minha língua de Vênus o veneno que escorria entredentes quando alguém apagou a luz do
abajour e anoiteceu a madrugada de sonhos
o pau
brasil ainda sangra
no último dia de agosto do ano de dois mil e vinte e quatro amarrei
os cadarços dos meus sapatos na realidade dei um nó o pau brasil ainda sangra brasil é brasa fogo
por todo canto fogo por toda casa incêndio
na Amazônia incêndio no pantanal mas
em sampa o governador afirma que não é crime
: “tudo dentro dos conformes tudo dentro do normal progresso
do regime economia de mercado terra para a soja pasto para o gado”
a mão assassina tem nome
a mídia assassina é uma só
ou não elegemos mais
quem defende agro negócio
e a bancada dos seus sócios
ou morreremos todos assados
e o país vai virar pó
por onde passeio
minha língua
tenho ainda tuas unhas
mesmo não estando
entre meus dedos
e no estado em que me encontro
mar é corpo palavra/carne
tua língua meu brinquedo
não creio amor sem isso
nem entanto aquilo outro
pouco entendo do espírito
mas o meu inda é de porco
se nunca estive
agora estando
é que absinto não me cura
se o seguro porto é que procura
pode tentar o outro lado
que o meu é mais o lança/chama
pra incendiar os teus navios
muito além dos temporais
acender língua de fogo
como um danado cão vadio
farejando as altas ondas
deste terrível mar bravio
como se sabe ou como soube
amor não cabe em calmaria
em outro nome nunca coube
e nem atlântico caberia
quero beijar teu mar de búzios
e até teus seios comeria
ao mergulhar por entre as coxas
beber teu mel na maresia
entretanto
eu tenho sede
eu tenho fome
eu tenho sede de canto
eu tenho fome de conto
assim quando me encontro
ou desencontro
canto e conto
a música do desconcerto
o conto do desencanto
e no entanto confesso
que não sou triste
um poema ainda existe
pra me animar do desconforto
para me salvar do entretanto
pra me acertar no desconcerto
musicado por Paulo Ciranda
entre
os lençóis
teu cheiro
é como formigueiro
atiça meus sentidos
como disse paulo leminski
sentado não vale a pena
não tem ápice no poema
o desejo pulsa de pé
para atingir os sustenidos
Federico Baudelaire
meio carioca
meio portuguesa
irina ontem estava assim meio formiga meio borboleta caminhava
no trilho em linha reta nos laranjais de assombradado
:
- foi aqui que conheci uilcon amor a primeira vista mergulhei
em mar de letras em cada lavra da palavra signo anti/moralista
irina me provoca calafrios quando despe os seus sentidos nos parangolés de oiticica sem a mãe das arte manhas a arte no brasil como é que fica?
no carnaval da verde/rosa a cruz de malta vascaína meio brazuca meio guesa nem sei dizer se é carioca nem sei dizer se é portuguesa
A Filha do Visconde
chegou
agosto mês
dos cachorros loucos sabemos
não são poucos não
sou Leminski mas
também sou minha
rolerfllex já fotografou no
bordel da quinta tudo
desandou o
que me importa se
atrás da porta ela
me espera nua pra
viajar pra lua ou
nem sei pra onde a
filha do visconde se
enfiou no bonde desbundou
para mauá saiu
dos trilhos foi
parar no palco da
pornofonia quem diria
terminou
no Irajá
no coração dos boatos
quando avistei pela última vez os telhados de assombradado tudo era desolado micheque matou as carpas roubou as moedas da fonte o povo tinha sumido da praça dos 3 poderes Federico vomitava notas de 5 nos botecos de recife fazia mais de 2 anos que não via Santo André quando saí de Araraquara fui direto a Tietê na farmácia dos desejos nem farinha de tapioca na aldeia carioca ela me deu conto de fadas mas merda da minha sogra comeu todo o brigadeiro que tinha guardado inteiro pra matar minha larica que o baseado de ontem foi pior que carnaval dia 3 de fevereiro
o amor é cruel
sabe como é EuGênio Mallarmè quem diria foi dá em Paris debaixo da Torre Eiffel o amor é cruel já dizia Luiz Ribeiro cacos de vidro pés descalços já beijei o teu retrato minha linda Meg Lee 1975 na rua 21 de abril o sol entrava pela janela nem bem amanheceu na cidade alta que ainda não conhecia sua casa em Santa Teresa onde fez a moradia
tropicanalha revisitada
Lady Gumes estava sumida atrevida como sempre virou isca de polícia na saldanha marinho próximo a rodoviária roberto silveira quando beijando paulinho capeta na garupa de uma moto a mais de 100 por hora hoje um ano depois foi liberada do presídio e em homenagem a ela Pastor de Andrade rezará missa na Igreja Universal do Reino de Zeus às 10h. Todos convidados
perverso
percevejo ataca
tudo que vejo
tenho visto muito gado pastando nos
cercados outros ainda dentro do curral está chegando o carnaval alguns
continuarão pastando outros ainda presos vão orar pra besta com suas mentes
tortas vindo dos esgotos tanto gado escroto que não acredito que esse ser
humano esteve um dia vivo
girassol de van gog
isa
sobreviveu enchente
um
rio passou na porta da frente
da sua casa beijou um girassol
de
van gog nas pontas dos seus cabelos
no
colo do seu vestido um peixe azul colorido isa mar sempre viva
carne
fogo brasa pele de luz acesa
nas
plumas de suas asas se dá adeus me arrasa embora não pareça
me
deixa sem pé sem cabeça
primeira cartilha
Zé Limeira a primeira cartilha que estudei na tapera antes da terceira série primária quando me encontrei com Amália embaixo da bananeira quero aprender a nadar na montanha da mina geral pegar a nau pra Portugal ir parar em Blumenau atrás da filha do conde que se afogou no matagal lendo o vampiro catatau que encontrou na geladeira
a pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
fedra
sagarânica
a palavra sagarânica
tem os seus mistérios
o significado fica a seu critério
fulinaimicamente
te digo o som dessa palavra
cola as tripas no umbigo
ofertório
todo
meu senso político/social dedico a ela no
livro que sou
enquanto
coisa sensual metáfora
para
os olhos de quem lê para os sentidos de quem vê
eu
sou matéria argamassa armadura
permaneço de pé encaro
o tempo
contra
o vento contra a tirania da mordaça nada que eu não faça
para
ela minha musa – amor é cego
dou
de graça
o meu amor
não é bicho
é pássaro
afogado no lixo
uma metáfora audaciosa - em um país onde a fome é o resultado da barbárie e os fascistas batem continência para ETs e cantam o hino nacional para pneus de caminhão, clarice mata sua fome seus sonhos e desejos comendo livros e me avisa enquanto não tem espelho na parede a gente improvisa
eu estava aqui sozinho em meu cavalo branco numa manhã de sábado o sol ardendo a tarde e minhas mãos geladas nos lençóis de lã quando o telefone me tirou da cama e me fez pensar nessa manhã de louco todo mistério é pouco eu quero essa hortelã na boca eu quero te beijar
fogo fátuo fato fosse festa fulinaimagem também fosse essa minha estrela na testa onça maracatu rural tacape bodoque flecha essa minha linguagem, complexa onde a vida é vendaval no fundo do poço tudo enquanto posso fissura carnadura ossatura sonoridade dos ossos
quando penso clara
a alma do ovo gema
signo intacto
cabe a ela decifrar
são 3 secretos de dante são 7 sagrados de
bar cada palavra
lavrada a
cada lavra bordada na
costura do mesmo linho as
vezes suor e cerveja as
vezes chuva de vinho quando
penso clara desejo penetrar
o desconhecido por
tudo que tenho parido
por tudo quero inventar
da nascente a foz: um rio de palavras
poema em construção
nem
sei onde mar vai desaguar em que pá/lavras em que águas medulas algas em
que marinhas cais ou mágoas cada palavra tem um que de firmamento cada delírio
pode mais que o infinito cada grito muito mais que sacramento o silêncio não me
basta em cada ato foto e fato existência sentimento só me tem se acredito
*
corpo
físico espírito
luta
corporal formigueiro
salgueiro
mangueira portela
escola
samba música refavela
lapa
cinelândia santo cristo
copacabana
ipanema leblon
corcovado
redentor são conrado
ponte
niterói baia guanabara
estágio
vertigem alquimia
teatro
cinema poesia
jiddu
tchello tanussi turiba
telma
monica eugenia margarida
angel
ricardo ingrid alice
ademir
cesar claudinei
gil
cetano gal cássia eller
dalila
jurema zhôo carolina
adriano
joilson alexandre
largo
machado glória
catete
castelo ocinei
lembranças
estados memória
karla
gigi mocidade
federika
ouro preto vila rica
adriana
sady marcela
américa
avelima gillioli
fábio
simone krihsnamurt
tonho
tenório admilson
hamilton
florianópolis curitiba
rio
mar maresia
barco
navio travessia
veredas
sagarana ortografia
gramática
livro disco harmonia
escrita
cidade fotografia
igor
dança pensamento
objeto
predicado complemento
finalidade
velocidade sagaranazes
campos
cacomanga coytacazes
vampiro
tupiniquim fechamento
reubes
fulinaíma ribeiro
frevo
xaxado coco pandeiro
torquato
geleia leminski
carne
sangue fogo pano palha
baudelaire
mallarmè kandisnki
oiticica
neville tropicalha
poema
portifólio carnavalha
sexo
amor virgindade
companheira
companheiro virilidade
sarcasmo
ironia castidade
padre
pátria papa santuário
pornofonia
pornografia santidade
eros
dionísio zeus apolo
vênus
afrodite áfrica grécia
antropologia
mitologia anarquismo
hipismo
modernismo olimpia
mil
novecentos cinquenta sete
quando
ainda pivete
estética
seca folha didi
classificação
mundial campeonato
futebol
gol que só eu vi
cores
nomes pronomes objeto predicado
tribo
indígena capixaba curumim
aldeia
goya tacá amopi
serafina
severina serafim
filipe
flora sofia isadora
arara
iara dandara amora
marina
brumadinho minas
mariana
isabela irina
nascente
foz correnteza
paraíba
ceará fortaleza
paraíba
ceará fortaleza
sergipe
piauí pernambuco
eunuco
salvador garanhão
acre
maranhão tocantins
amazonas
pará parintins
pulga
percevejo carrapato
rosa
dália margarida alecrim
borboleta
alfazema bem-me-quer
relâmpagos
ventania trovoadas
cata-vento
rodamoinho tempestade
sussuarana
suassuna surubim
sabará
itabira querubim
caipora
canadá quixeramobim
andorinha
passarada piedade
jardim
zoológico tom jobim
drummond
carlos andrade
quixaba
quixadá oriticum
gravata
gravura gravataí
porta
porteira paraty
pintura
prateleira paraquedas
pérola
parnaíba piabanha
parnaso
paraíso piranha
quixaba
quixadá oriticum
picanha
paraopeba ocurum
ouvido
orelha artemanha
cosme
damião doum
*
marajá
maracujá murundum
travessão
conselheiro vila nova
olinda
recife garanhuns
tapera
ururaí guandu
goiaba
graviola guaiamum
bomucado
bracutaia brucutu
curupira
caranguejo caramurú
almandrade
ilha bela paracatu
germina
girafa girassol
arquitetura
arquiteto armorial
fogo
farra festa futebol
vassourinha
frevo carnaval
bola
búlica boleto
bárbara
bruna polleto
passeio
passeata passarelli
manifesto
martinália marielle
ramisson
augusto brettas
faustino
severino borboletas
tamanduá
tremembé tucuruvi
antônio
roberto góis cavalcanti kapi
*
na carne da palavra
nasce o poema
entre ossos
cataventos
para Tanussi Cardoso
o rio de palavras segue a todo vapor tanussi não é barato trato ás águas com apreço palavra inventar custa caro mesmo assim nunca desisto aqui mesmo dou exemplo rio mim rio de dentro rio que vem de fora morro lá muito longe estando aqui muito perto vivo rio no centro esquerdo de cada esquina curva de cada peito tanussi um dia me lembro um rio assim Sagarana fulinaíma inda invento o que antes nunca dito nas árvores secas do outono nas hélices dos cataventos
para Luis Turiba
na trans-piração a prova dos nove onde o poema se
comove no sobrenome do abstrato bem no fundo do retrato as linhas curvas
do concreto nos corredores do mam que polock lambuzou no aeroporto do
flamengo que a dona portinho projetou o ano não sei ao certo helena nunca me
disse que sua tia arquiteta amava o nome poeta que em teus seios
mergulhou ainda hoje admiro palavras a qualquer preço signos a qualquer custo o
nome das coisas um susto como nos desfiles do samba o complemento
:
adereço
A filha do conde
filha do conde – a outra saiu do Irajá
pra Madureira madrugada de sexta-feira mergulhou na baia do estrangeiro pensou
ser Garota de Ipanena gritou na porta do cinema : “eu sou a outra que Vinícius
de Moraes cantou com Baden Powell no samba para Ossanha eu sou estranha pense o
que quiser não sou Nanã sou filha de Iansã um fogo de mulher" .
carnadura
nos anos 90 recebi em um texto de Jommard Muniz de Britto sobre o portifólio CarNAvalha Gumes, a palavra carnadura que ficou dançando em pensamento e como bem diz Igor Fagundes: “pensamento dança. Ela rima com rapadura, formatura, ossatura só não rima com ditadura. É lá no fundo do poço que extraio tudo quanto penso . Carnadura são fibras das nervuras entre/ossos quando berro alto contra tudo que é desmando no silêncio do desassossego.
penso
o abstrato no sonho
e ponho o concreto
no sonho do abstrato
o risco
atravessar as portas ultrapassar janelas paredes muros cidade o risco de te matar saudade dentro da boca que quero de penetrar garganta laringe esôfago estômago enquanto dançamos bolero sendo um tango enquanto fado arrisco o beijo guardado num copo de vinho ou de menta sabor de pimenta e alho e o doce mel da pimenta enquanto a palavra entra pelos teus olhos e abras teu cais do porto lacrado arrisco meus dedos e dados nos lances mais atrevidos dos nossos sextos sentidos por tudo que foi esperado
poema abstrato
bala perdida
acerta sempre
o alvo desejado
poema concreto
objeto in-direto
direto
no objeto
o desejo da fome
ela não era apenas
carne para a fome
do desejo
ela era o próprio desejo
da fome
estampada em letras grandes
na foto grafia do teu nome
vamos comer vinte dois
ela continua sendo
tudo o que não sei
a mulher que eu quis
mas não amei
*
vamos comer vintedois
cem anus depois
é ela que eu quero
no teatro na música
no poema no cinema
revirando a tropicalha
no fio da carNavalha
porque hoje é sábado
há um traficante de armas travestido de deputado porque hoje é sábado há um jesus no asfalto esquartejado porque hoje é sábado há um deus negro no quartel ensanguentado porque hoje é sábado[ há um bordel na praça dos 3 poderes no planalto disfarçado porque hoje é sábado há um lance livre na quitanda do mercado porque hoje é sábado há um beijo na boca do amor desesperado porque hoje é sábado há um bacanal no barraco do templo alado porque hoje é sábado na casa dos fundos dormem as cafetinas do senado porque hoje é sábado
Irina ontem me perguntou se eu estava bem. Em relação a segunda
sim, acho que o ofício de poeta me refaz. Enquanto isso Irina vem e vai como
uma rima levada pelo vento sem tempo de captar
contragosto
nasci em agosto
a contragosto
pai não me disse
mãe
também
o preço da vida
o remédio pra ferida
o custo em cada missa
pra
dizer amém
o último goytacá
quando te tocar
é para alvoroçar os teus cabelos
eriçar teus pelos
molhar os teus mamilos de saliva
com essa língua viva
aqui na minha boca
o último goytacá
coisa muito louca
feiticeiro – resistente
mastiga os mamilos da musa
armado de poesia até os dentes
Agora que Isadora em mim amoras
no pomar da minha casa meu corpo incêndio no barril é pólvora a carne em chamas no esqueleto brasa o fogo acende os pavios entorpecidos e o instinto volta a fazer parte dos sentidos
poética 44
na
pedra do sossego
eu me abstenho
na
pedra do sossego
eu me abstrato
na
argamassa dos teus olhos
me preservo
na
pele dos teus dedos
meu
barato
nos
mamilos dos teus seios
me concreto
no
cio do teu corpo
eu me retrato
Poética
88
gosto dos tecidos que cobrem a pele das ovelhas gosto do mel do útero das abelhas nem sempre o vinho em meu altar é sacrifício o meu ofício em Passo Fundo o sobre nome é mais sagrado que a cópula nas igrejas não sei o nome que se dá a tudo isso só sei que gosto de estar com os olhos fundos no mais profundo do orifício
Pastor de Andrade
são sebastião do sacramento
fosse muito mais que uma jura secreta poema em linha reta nos vales do café às margens da 040 nas Minas do Espírito Santo entre uma linha e outra da estrada do encontro muito mais que fotografia a pele na grafia do dia que amanhece na porta de uma igreja da noite que viemos
fosse muito mais onde estivemos
e quase não tocamos a lua no espelho no poema que escrevesse por quanto muito mais se quisesse ou
esquecesse
linguagem
o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca
o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída
sem ter adeus na despedida
Metáfora Fulinaímica
uma garça apática e pensativa procura alimento no Manguezal em Guaxindiba. Mas caranguejo não há. Está difícil está tudo muito difícil está cada vez mais difícil está muito mais difícil como diria meu amigo grande poeta português Fernando Aguiar: está dificilíssimo!
Irina Serafina
nos meus delírios baudeléricos
mesmo se fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fossem flor de lírios
BraziLírica Pereira
: A Traição das Metáforas
certa vez em assombradado tive uma puta princesa do meu lado e
a puta que pariu o presidente dos mil cheques tinha feito sua cama nos telhados
da alvorada e a puta mãe depois foi descoberta vendendo alguns saquinhos de pó
branco nas estradas vermelhas do planalto central de brazilírica lá pelas
bandas da groelândia tupiniquim da bertolínia aziática onde nem pó de guaraná
faz mais efeito estava escrito num para-choque de caminhão que trafegava pela
estrada na direção transamazônica
inquisição:
por sermos duas metáforas novas, frescas, gostosas,
desoprimidas e sem qualquer pseudo complexo de fidelidade é que estamos aqui em
brazílica pereira, por sugestão da uilcona biúka diante desta outra inquisição.
não, ainda não fomos apresentadas a lady federika bezerra.
mas, a conhecemos pela sua fama internacional de porta/bandeira. macabea não pode se sentir frustrada pela nossa decisão de estarmos aqui neste confessionário, primeiro, porque não temos, e nunca tivemos nenhum compromisso com ela, segundo, é que alinhamos em outra frente liberal, e desfrutamos de todo direito de ir e vir, ter e dar prazer, gozar da forma que melhor nos convir. sexo? é uma opção de gosto mesmo. até no palco, por quê não? irônicas? sim, nosso mestre serAfim nos ensinou que do sarcasmo nasce a grande arte. mas o importante é que nós como metáforas não precisamos estar somente em entre/linhas, estamos também nas entre/tuas entre/minhas, e não se trata de traição, procuramos fazer algo diferente, por exemplo, do que já vimos em filmes de Godard, construídos em larga medida só com citações e referências, apoiamo-nos nas coplagens como elementos básicos para ultrapassá-los e transcende-los. agimos como uma espécie de conspiradoras conscientes dos bens culturais e materiais que nos pertencem como patrimônios da humanidade.
uma outra
não deveria, portanto, macabea vociferar aqui sua ira,
acusando-nos veladamente de traidoras, sem assumir de fato em atitude pública a
destilação desse veneno como palavra que não entra em cena.
as belas letras, para nós, começaram através das letras belas, narcisas pelos próprios nomes: metáforas, e por fidelidade a federika não traímos macabea, apenas não fazemos parte de uma mesma concepção de que a palavra parte e as letras que pretendemos belas não são simplesmente nossas, muito menos dela. podemos constatar com gratidão que emergem das lendas, fábulas, crônicas e contos, poemas de uma visão de mundo bem nítida e pessoal. talvez, quiçá, quem sabe única reflexão de ruidurbanos, restos de gravuras e resíduos tipográficos. ou seja: uma série de gestos amorosos eróticos de novo, repletos de ironias sensuais, doce fervor, fogo de malícias explosão e gozo. por sinal, diga-se de passagem, que essas dimensões éticas, jurídico-morais, nunca nos interessaram. nossas relações com a propriedade privada, em todas as suas formas e cristalizações históricas, sempre foram tranquilas e sem remorsos.
o dia passa
a noite passa
poesia passa
passagem passa
cerveja passa
conhac passa
música passa
poema passa
desejo passa
paisagem passa
vinho passa
a uva passa
a vida passa
a viagem continua
um peixe com os olhos esbugalhados e a boca escancarada de batom tenta me comer porque sabe que carne humana tem um gosto muito bom não é ave de rapina mas tem asas de neon na parede nada me conforte quatro pernas uma vassoura um mansinho saio de mansinho para não ser devorado pela natureza morta
zanzalar
um desafio para se caminhar é sal é pedra carvão é mar na
borda do campo paranapiacaba morde o calcanhar de três cidades não santas mas
nada disso me espanta para na mata atlântica pedalar
se enfiar novamente no mato curupira carrapato pirapora comer
do verde que na mata inda restou ouvir da mata tom jobim no seu cantar na
língua do sapobemba no bico da sabiá que ainda não cantou beber da água da bica
do lago billing e de toda natureza virgem/selvagem voltar a me alimentar
e se eu tivesse você entre talheres e xícaras as coisas que vejo ao lado da televisão um quadro de picasso na parede dois edifícios frente ao elevador e se estivesse em são luís amaralina salvador teria você do mesmo jeito a remexer dentro do peito e ainda não sei o que fazer com esse amor e se falasse com deus ele dissesse mergulhe na piscina e volte limpo para ter espírito santo poder cantar todo esse canto que um bom josé anunciou um encontro imaginário pelas águas itabapoana paraíba tietê daria o quê? uilcon sacilotto novo broto que brota da lama numa cama de retalhos que o moderno não cantou
girona
para
Rubervam Du Nascimento
vou-me embora pra girona
lá tem caminhos de sal
não precisamos obedecer
as ordens de portugal
nem de um outro rei qualquer
vou-me embora pra girona
aqui roubaram
tudo que eu tinha
e tem supermercado
em especial de natal
vendendo pé de galinha
vou-me embora pra girona
a carne seca no telhado
as gordas coxas da madona
o rala buxo no mercado
os grandes bailes de sodoma
nem servem mais com farinha
vou-me embora pra
girona
lá tem matriarcado
alegria no mercado
e um carnaval de mulher
e todas flores do mal
são pétalas de um bem-me-quer
VeraCidade
pedra de
toque
pedra de
rock
veracidade
meu bodoque
tem seu
preço
na minha
idade esta cidade
ainda não
conheço
até hoje
ninguém soube
escrever o endereço
desde os
tempos
das
colônias dos impérios
dos tropeiros dos tropeços
irina passeia à beira mar vestida de maresia beija no vento o
sal do suor da pele nua quando senta na pedra do sossego gozando a liberdade de
ser unicamente sua
vou-me embora pra girona
lá nina Florbela me
ganha
com um soneto me espanca
e um cogumelo espanhol
e os girassóis de Van Gog
giram em torno do
sol
EuGênio Mallarmè
hoje amanheci torquato
mesmo que ela não me queira
quero o amanhã de quatro
ainda que não seja terça feira
ainda que não seja só desejo
quando essa manhã desponta
nem que seja na lança de uma ponta
nem que seja numa ponte para o beijo
quero essa manhã por todo sempre
a flor delírio que desejo
hoje me
largo de mim
boto iriri na lona
com minha
carne tupiniquim
para
enrolar os espanhóis
nos
retalhos imortais do SerAfim
jogo
na cara do rei
rapadura
e aipim
e grito
na cara dela
fui eu
mesmo quem pintou
a porta
de entrada da favela
com cuica e tamborim
Rúbia Querubim
chiriquela
gata magrela
com sua
boca da guesa
me
pergunta da janela
por sua
mãe portuguesa
dandara a
psicopata
de
família irlandesa
traiu a
confidência de zapatta
no
carnaval pernambucano
matou o
pai numa gravata
e se
alistou no exército mexicano
Federika Lispector
lá helena
louca de espanha
me espera no cais do porto
já me
larguei de quipari
para
alguns parece
até que estou morto
mas
confesso : ainda estou aqui –
Federico Baudelaire
https://www.instagram.com/p/DKmPeiiu0vC/
pedra / marcada
tendo estado desa(r)mado
nas quebradas muito reggae
tenho andado muito são
maldição – o diabo que carregue
sexta feira fui a meg
ler as cartas do tarô
no jogo de dados deu dez
no jogo de búzios deu doze
nas cartas do tarô foram sete
segunda leitura quatorze
não brinco com coisas secretas
no jogo das cartas sagadas
meg assim decifrou
:
o mito aqui não é grego
o deus aqui é xangô
afrodite me disse que não
vênus me disse quem sou
zeus me disse quem sabe
destino é carta marcada
na pedra do redentor
um dia você encontra
os olhos do seu amor
no alto do corcovado
ou na pedra do arpoador
EuGênio
Mallarmè
esta
mos
sum
índios
Zhô Bertholini
Brazilíndios
foi-se a era
de belos índios
índios belos
ensinando
forma de viver
na amazônia
hoje
a selva sangra
agro negócio
soja pastos
novos sócios
para o gado
paralelo
Posfácio de Artur Gomes
Renata da Silva de Barcellos
(Pós-doutorado em
Literaturas – CEJLL – NAVE RJ)
Nesta obra intitulada Itabapoana Pedra Pássaro Poema, Artur Gomes possibilita o leitor navegar em diversas áreas do conhecimento: Literaturas: “quando Rachel escreveu quinze meus olhos doeram nos olhos”; Música: “Joilson Bessa me disse Kapiducéu já ensaia Macunaíma vem vindo no Auto do Boi Macutraia” e “misturei meu afro reggae a muito xote do xaxado ainda fiz maracatu maxixe frevo já juntei ao fox trote quando dancei bumba meu boi em pernambuco fulinaíma é punk rock rasgando fados em bossa nova feito blues para pintar a pele branca de vermelho e repintar a pele preta de azuis”. Um verdadeiro passeio por diversos gêneros. Não poderia faltar o samba “do azul/marinho da Portela o verde/rosa da Mangueira”. E Artes plásticas: “levanta natureza morta você não é Cubismo de Picasso nem Surrealismo de Dali diante os cabelos de aço de Frida Calo”.
O poeta utiliza três palavras-resumo: poesia alquimia bruxaria. Essas sintetizam a essência dos seus poemas. De fato, alusões (“helena me deu um cavalo de pau”) e citações (“se foi Cândido Portinari quem pintou as portas de entrada da favela ou se foi Rúbia Querubim”) são “misturadas” ao tom crítico (“só come o pão que o diabo amassou portas sempre fechadas na cara do trabalhador grandes fortunas livres de impostos projeto para aliviar o bolso do povo câmara dos deputados rejeitou”). Dessa forma, surge seu estilo próprio no qual seus textos são ricos em referências, possibilitando o leitor com um bom nível cultural a se deleitar em novas possibilidades estéticas de poesia. Através delas, podemos constatar seu posicionamento político “contra o poder da tirania” como em (“eu sou matéria argamassa armadura permaneço de pé encaro o tempo contra o vento contra a tirania da mordaça nada que eu não faça”).
Uma das características da poesia contemporânea é a experimentação “sem existencialismo cansei dos ismos pós concreto”. Gomes faz diversas alusões ao poeta francês Charles Baudelaire, considerado o pai da poesia moderna, a partir de 1848: “nasci federico DuBoi de Baudelaire da caneta de um poeta que não...” e a Mallarmé com as experimentações como em Um lance de dados. Na atualidade, compreende-se a língua como “plástica e maleável”, permitindo criações por Gomes como: “A pá-lavra poesia” – “leminsk i Ando”- “se FlorBela ainda vive” e “em carNA val meu olho disse:” Também é marcante a força pela surpresa lexical com neologismos “brasilírica”. Assim, utiliza alquimia para desbravar novas formas de linguagem como em: “ sagarânica” (A palavra Sagarana é um neologismo que une o radical germânico “saga” cujo significado é "canto heroico" ou "lenda", com a palavra tupi “rana”, sentido "que exprime semelhança" e o sufixo "-ica" é um sufixo nominal de origem latina). Essa é uma das marcas desta obra. Observa as palavras para decompô-las como em “primavera” criou “Ana à Vera” a fim de recriar e expressar novos sentidos.
Outra marca da poesia contemporânea é valorização da intertextualidade, um recurso linguístico que já havia sido observado na corrente modernista. Exemplo: “que não sou triste um poema ainda existe pra me animar do desconforto para me salvar do entretanto pra me acertar no desconcerto”. Salve, salve Cecília Meirelles!
Faz alusão a fatos históricos para crítica social como a chegada do português (“enquanto na primeira missão galo camões bem galinha chocando o ovo do índio ou pero vais que caminha”) e a Independência do Brasil (“no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza Leopoldina”). O poeta conduz seu leitor a refletir sobre diversos acontecimentos também.
Dessa forma, trata-se de uma obra primorosa na qual o autor demonstra o poder de articular diversas áreas do conhecimento. E de um belo exemplo da
Poesia
Contemporânea. Vale a pena a leitura!!! Sugestão: utilizar em sala de aula para
aprimorar o conhecimento de mundo dos alunos. E viva a POESIA
CONTEMPORÂNEA!
Renata Barcellos - Pós-doutorado em Literaturas – CEJLL – NAVE-RJ)
Artur Gomes - minibio
poeta.ator.produtor cultural vídeo maker
2023
– Criou o projeto Campos Veracidade para a Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima onde atualmente atua na coordenação cultural em Campos dos
Goytacazes-RJ
De
1975 a 2002 – Coordenou a Oficina de Artes Cênicas da ETFC – CEFET-Campos – IFF
Instituto Federal Fluminense
Em 1993 – criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade – 100 Anos – realizado pelo SESC-SP
Em
1995 – Criou o projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada
Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP
De
1996 a 2016 – coordenou o Departamento de Audiovisual do Proyecto Sur Brasil –
Bento Gonçalves-RS – realizando Mostras Cine.Vídeo na
programação do Congresso Brasileiro de Poesia.
Em
1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, projeto que é realizado até hoje pela
Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima.
De
2014 a 2016 – Dirigiu Curso de Artes Cênicas no SESC – Campos
Em
2018 e 2019 lecionou no Curso Livre de Tetro da Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima.
Em
2018 participou como convidado do I Festival Transepoéticas no Museu Nacional
de Brasília-DF
2021
- Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada que é realizado na página
Studio Fulinaíma Produção Audiovisual no facebook
https://www.facebook.com/studiofulinaima
2021
–Integrou a Mostra Bossa Criativa – Arte de Toda Gente – realizada pela
FUNARTE-Rio
Curador
da Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada realizada pelo SESC Piracicaba –
2022 - produziu e coordenou na Santa Paciência - Casa Criativa, em Campos dos Goytacazes-RJ o projeto Geléia Geral - 22 - 100 Anos Depois.
2023
- 2024 - produziu e coordenou o Sarau Sarau Multilinguagens - no Museu
Histórico de Campos dos Goytacazes-RJ e no Palácio da Cultura.
2023
- lecionou poéticas no Curso de Teatro de Rua na Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima - Campos dos Goytacazes-RJ
2024 - Dirigiu a Oficina de Poesia Falada no Palácio da Cultura em Campos dos Goytacazes-RJ
leia mais no blog
https://fulinaimargem.blogspot.com/
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