a vida não basta
se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta para o bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal
Federika Lispector
o rio com seus mistérios molha meu cio em silêncio desejo o que nos separa a boca em quantos minutos a língua solta na fala
domingo, 26 de março de 2023
a vida não basta
domingo, 19 de março de 2023
nina
Poética
42
Era uma menina vestida de outubro
atravessando a rua
com um girassol no seu vestido
suas mãos beijavam o vento
como fossem lábios
de um beija-flor
meus olhos mergulhados
na paisagem
entre os olhos da menina
e o espelho do retrovisor
foto.grafei naquela tarde
a cor do seu vestido
e o girassol daquele dia
para me habitarem
seja lá por onde eu for
Federico Baudelaire
Pornofônico
confesso
se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em letal porno grafia
na sagração da mulher
me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja/devora
palavra por palavra
a fome por dentro e fora
em pornofonia sonora
me diga Lady Senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus
me diga Bia de Dora
num plano lítero/estético
qual humano ou cibernético
que te masturba ou te deflora
Artur Gomes
o poeta enquanto coisa
Editora Penalux - 2020
onde a poesia
se espalha
a língua nativa
não é fogo de palha
é brasa viva
Anjo
Torto
eu sou o que invoca
o que provoca
e incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta
eu sou o que interpreta
representa
o que inventa
e desafora
o Anjo Torto
graças a Zeus
a pedra e ao Machado de Xangô
a Capitã do Mato Caipora
me xinga de poeta enganador
mal sabe ela
que eu sou da reza
que o homem que se preza
nunca se escraviza
com chicote de feitor
dia d
dia d
,
furai
a pele das partículas dos poemas
viemos das gerações neoabstratas
assistindo a belos filmes de Godart
inertes em películas de Truffaut
bebendo apocalipses de Fellini
em tropicâncer genocidas de terror
, sangrai a tela realista dos cinemas
na pele experimental do caos urbano,
tragai
Dali pele entre/ossos
Glauber rugindo enTridentes
na língua do veneno o gozo das serpentes
nos frascos insensíveis de isopor
,
caímos no poder do vil orgânico
entramos no curral dos artefatos
na porta de entrada os artifícios
na jaula sem saída os mesmos pratos
Artur Gomes
Artur
Gomes: Com os Dentes Cravados na Memória
em cena
sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma
garrafa de café. Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em
sua boca, para ela comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que
Federico a imagine mulher doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare
ele isso é muito vago. a garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que
ninguém a tocasse, todos os sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o
chocolate.
Artaud
Antoine Marie Joseph Artaud, conhecido como Antonin Artaud
(Marselha, 4 de setembro de 1896 — Paris em 4 de março de 1948) foi um poeta,
ator, escritor, dramaturgo, roteirista e diretor de teatro francês de
aspirações anarquistas. Ligado fortemente ao surrealismo, foi expulso do
movimento por ser contrário a filiação ao partido comunista.
Em 1937, Antonin Artaud, devido a um incidente, é
tido como louco. Internado em vários manicômios franceses, cujos tratamentos
são hoje duvidosos, ele é transferido após seis anos para o hospital
psiquiátrico de Rodez, onde permanece ainda três anos.
Em Rodez, Artaud estabelece com o Dr. Ferdière,
médico-responsável do manicômio, uma intensa correspondência. Uma relação
ambígua se estabelece entre os dois: o médicoreconhece o valor do poeta e o
incentiva a retomar a atividade literária mas, julgando a poesia e o
comportamento de seu paciente muito delirante, ele o submete a tratamentos de
eletrochoque que prejudicam sua memória, seu corpo e seu pensamento.
Existe aqui um afrontamento entre dois mundos, o
da medicina e razão social e o do poeta cuja razão ultrapassa a lógica normal
do “homem saudável”.
As cartas escritas de Rodez são para Artaud um
recurso para não perder sua lucidez. Elas revelam um homem em terrível estado
de sofrimento, nos falando de sua dor através de uma escritura mais íntima e
mais espontânea. São os diálogos de um desesperado com seu médico e através
dele com toda a sociedade.
“Não quero que ninguém ignore meus gritos de dor e
quero que eles sejam ouvidos”.
Obras
Para Artaud, o teatro é o lugar privilegiado de
uma germinação de formas que refazem o ato criador, formas capazes de dirigir
ou derivar forças.
Em 1935 Artaud conclui o “Teatro e seu Duplo” (Le
Théâtre et son Double), um dos livros mais influentes do teatro deste século.
Na sua obra ele expõe o grito, a respiração e o corpo do homem como lugar
primordial do ato teatral, denuncia o teatro digestivo e rejeita a supremacia
da palavra. Esse era o Teatro da Crueldade de Artaud, onde não haveria nenhuma
distância entre ator e plateia, todos seriam atores e todos fariam parte do
processo, ao mesmo tempo.
Resultado de imagem para Antonin Artaud
Em Rodez, além de suas cartas (lettres au docteur
Ferdière) ele elabora uma prática vocal, apurada dia a dia, associada à
manifestações mágicas. A voz bate, cava, espeta, treme, a palavra toma uma
dimensão material, ela é gesto e ato.
Artaud volta a Paris em 1946, onde dois anos
depois é encontrado morto em seu quarto no hospício do bairro de Ivry-sur-Seine.
Um fato curioso: ele morreu segurando um sapato. Neste período, além de uma
importante produção literária ele desenha, prepara conferências e realiza a
emissão radiofônica “Para acabar com o juízo de Deus” (Pour en finir avec le
jugement de dieu), em que sua vontade expressiva se alia a um formalismo
cuidadoso.
Se nos anos 30 o teatro para Artaud é “o lugar
onde se refaz a vida”, depois de Rodez ele é essencialmente o lugar onde se
refaz o corpo. O “corpo sem órgãos” é o nome deste corpo refeito e reorganizado
que uma vez libertado de seus automatismos se abre para “dançar ao inverso”.
“A questão que se coloca é de permitir que o
teatro reencontre sua verdadeira linguagem, linguagem espacial, linguagem de
gestos, de atitudes, de expressões e de mímica, linguagem de gritos e
onomatopeias, linguagem sonora, em que todos os elementos objetivos se
transformam em sinais, sejam visuais, sejam sonoros, mas que terão tanta
importância intelectual e de significados sensíveis quanto a linguagem de
palavras.”
O seu trabalho ainda inclui, ensaios e roteiros de
cinema, pintura e literatura, diversas peças de teatro, inclusive uma ópera,
notas e manifestos polêmicos sobre teatro, ensaios sobre o ritual do cacto
mexicano peyote entre os índios Tarahumara (Les Tarahumaras), aparições como
ator em dois grandes filmes e outros menores.
Resultado de imagem para o teatro e seu duplo
Artaud escreveu: “Não se trata de assassinar o
público com preocupações cósmicas transcendentes. O fato de existirem chaves
profundas do pensamento e da ação segundo as quais todo espetáculo é lido é
coisa que não diz respeito ao espectador em geral, que não se interessa por
isso. Mas de todo o modo é preciso que essas chaves estejam aí, e isso nos diz
respeito” – em Teatro e seu duplo.
Considerava-se um poeta, mas não no sentido usual,
pois ele acreditava que alguém se definia como poeta ou não na própria vida,
não precisando escrever um poema sequer. Apesar de haver escrito poemas no
início da carreira, conforme o autor poemas simbolistas, queimou-os todos, e
não temos ideia de como seriam estes poemas. No entanto, textos posteriores
como “Para acabar com o julgamento de Deus” (1948), metafóricos e repletos de
experimentação linguística, podem muito bem se enquadrar na categoria de poesia
em prosa.
Encontra-se colaboração literária da sua autoria
na revista portuguesa revista Pirâmide (1959-1960).
todos os dias
todos os dias
acendo minhas lamparinas
e meus lampiões
o pavio aceso
afasta as aves de rapina
e o calor das chamas
aquece os corações
Artur Gomes
santíssima
Santíssima trindade
Quando fui ao Espírito Santo
vi três linda meninas
me sorrindo em aquarela
no entanto não sou santo
muito menos era de anjo
o sorriso em tua bocas
aquele olhar nos olhos delas
nas tuas íris/retinas
era ironia/sarcasmo
com a minha cara de fome
embaixo daquela janela
Federico Baudelaire
múltiplas poéticas
Clarice
Cruz Terra
OS CAMINHOS QUE ME TROUXERAM ATÉ AQUI
Quando me vejo retornando à Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde cursei Licenciatura em Teatro entre
os anos de 1997 e 2002, para falar sobre teatro e sobre o ensino
profissionalizante, parece que alguns ciclos estão se completando, ou se
conectando.
É curioso pensar que estudei na Escola Técnica
Federal de Campos, que hoje é a sede do Instituto Federal Fluminense (IFF),
escola que possui catorze campi no Estado do Rio e um deles é Macaé, onde eu
hoje trabalho. Lá eu fiz o curso Técnico de Química (quem diria?).
Mas, na verdade, cursei apenas dois dos quatro
anos. O que aconteceu nesta escola e que mudou a minha vida de forma decisiva -
eu tinha planos de seguir estudando na área das ciências - foi o fato de ter
feito a Oficina de Teatro na escola, com o professor Artur Gomes, um poeta
campista que desenvolvia um trabalho essencialmente performático conosco.
Lembro-me, por exemplo, de uma intervenção que fizemos na cantina da escola, em
que andávamos perguntando às pessoas na fila do caixa: “Quanto custa um sonho
na cantina?”.
Andamos também pelos corredores da escola como em
uma procissão cantando músicas de Milton Nascimento, entre outras propostas das
quais ainda me recordo com certa clareza, apesar de mais de 20 anos já terem se
passado. Como já disse, não concluí o curso técnico. Saí da escola e cursei um
ensino médio propedêutico em uma escola estadual, mas continuei por mais alguns
anos trabalhando com o Artur, ainda depois de sair de Campos para morar no Rio
e cursar a faculdade de Teatro na UNIRIO. Sim, esta experiência foi decisiva
para me levar a esta faculdade!
Obs.: introdução da Dissertação apresentada como
pré-requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Artes
Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Artes Cênicas, da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
poeta
por um poema
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus
da tua boca
arranhe os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor
assumo o risco
não sou o demo
nem corisco
eu sou cantor
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux - 2020
Brechet - o método
O método de Brecht
O alemão Bertold Brecht(1898-1956) foi um teórico
que praticamente antagonizou com Stanislavski, tornando-se um dos pilares de
sustentação das artes cênicas no tocante à interpretação e a mentalidade
mística a respeito da arte dramática. Seu principal livro "Estudos sobre
teatro", de imprescindível leitura para aqueles que pretendem seguir na
carreira artística, demonstra passo a passo sua visão sobre o mundo naturalista
(Stanislavskiano), que pretende conquistar o público com o sonho, o fingimento
e o jogo de faz-de-conta, enquanto que, para Brecht a necessidade maior
daqueles que assistem um espetáculo, é absorver a mensagem emitida pelos
artistas e não confundir a ficção com a realidade.
Para conseguir que o público absorva a mensagem do
espetáculo, não se iludindo com a realidade do contexto, Brecht propôs o
afastamento do público em relação ao que ocorre no palco. Esse afastamento não
se realiza fisicamente e sim emocionalmente, de forma que o espectador não deve
envolver-se com o espetáculo, e sim, manter a imparcialidade e a postura
crítica diante dos acontecimentos expostos no palco. Para constituir esse
afastamento, tudo aquilo que Stanislavski propôs em sua teoria cai por terra, a
começar com o cenário e a iluminação, que segundo Brecht, não devem convidar o
público ao sonho e sim a certeza de que tudo que se passa no palco é uma
mentirinha propositada.
Sobre a teoria do distanciamento do público em
relação o que acontece no palco, Brecht elucida:
“ Os esforços do ator convencional concentram-se
tão completamente na produção do fenômeno psíquico da empatia, que se poderá
dizer que nele, somente se descortina a finalidade principal de sua arte (...)
a técnica que causa o efeito do distanciamento é diametralmente oposta à que
visa a criação da empatia. A técnica de distanciamento impede o ator de
produzir o efeito da empatia”
Porém, Brecth não descarta totalmente o uso da
empatia por parte do público. Para o teórico, o ator deve passar a informação
com a mesma empatia que uma pessoa passa uma informação cotidiana. Afinal, quem
fala quer ser escutado, e para que isso ocorra o emissor deve abordar os
assuntos de uma maneira clara e objetiva para que o receptor queira escutar,
utilizando-se do recurso da empatia somente para prender a atenção do receptor.
Quando uma pessoa é atropelada, por exemplo, alguém conta esse fato para outra
pessoa, esse alguém procurará representar essa ou aquela personagem para
mostrar o que aconteceu, de forma que, para isso, sem tentar induzir o receptor
a uma ilusão de que sua representação é real. O uso da empatia está justamente
na forma natural que o emissor busca chamar a atenção do receptor, com
pantomima, com o movimento escrachado, com a dor exagerada, com os movimentos
trocista e brincalhões, ou sérios e pesarosos, mas sempre no âmbito das
informação clara, simples e objetiva.
Para Brecht, o ator consegue distanciar o público,
distanciando-se também de sua personagem, buscando representá-lo da maneira
mais fidedigna possível, porém mantendo suas prerrogativas em relação a sua
personagem, sem deixar de pensar em nenhum momento em suas próprias aspirações,
críticas e sentimentos. O ator deve ser profissional o bastante para contribuir
sempre para o crescimento de sua personagem independente do que pensa a
respeito dela, de forma que, para alcançar a perfeição na interpretação, o ator
deverá se ater ao que Brecht chamou de “mesa de estudos”, rejeitando qualquer
impulso prematuro de empatia com sua personagem, buscando compreender sua
personagem, como um leitor que lê para si próprio, em voz baixa, e não para os
outros. Para o teórico as primeiras impressões do ator a respeito da personagem
são demasiadamente importantes, pois serão essas as impressões que os
espectadores terão quando virem o espetáculo.
Brecht criou o método de “determinação do não
antes pelo contrário”. Para conceber melhor o propósito de sua personagem e
passar essa informação da melhor forma possível para o público, o ator deve
compreender que para cada ação, há um movimento contrário que deve ser previsto.
Ex: “Se a personagem anda para direita, é porque ela não anda para a esquerda”.
Esse só há de se perguntar: “ Por que minha personagem não anda para a
esquerda”. O que a leva nesse momento a andar somente para a direita?”. Para
Brecht é importante que o ator saiba que, no palco, ele é apenas um artista que
está interpretando uma personagem, ou seja, um intérprete que mostra a
personagem, mas não a vive, que tenta interpretá-la da melhor maneira possível,
mas que não tenta persuadir-se (tampouco os outros) de que é a própria
personagem. Dessa forma, o ator em cena não é Otelo, nem Hamlet, nem Lear e sim
um artista que os representa da melhor maneira possível, que dá ao público a
chance e o direito de tomar partido, de criticar, de conceber um idealismo sobre
as personagens de maneira própria. Cabe ao ator, no palco, propor um debate e
não debater.
quinta-feira, 16 de março de 2023
Geleia Geral - Rádio Caiana
Hoje às 20h
Geleia Geral
Rádio Caiana
Gravamos ontem com Paulo André Netto Barbosa o primeiro Geleia Geral com participação especialíssima da minha querida amiga parceira Marcella Roza cantando à capela Vapor Barato (Jards Macalé/Wally Salomão).
Além de uma seleta musical com meus parceiros Paulo Celso Ciranda Reubes Pess Otávio Cabral Naiman e Luiz Ribeiro e duas faixas com poesia e som instrumental de Fil Buc fluiu ainda um breve bate papo focado na minha trajetória desses 50 anos de poesia. Esse programa de estreia vai ao Ar hoje às 20h.
O Ator
Plinio Marcos
Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do
cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às
desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que
seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de
amor que viveu em sua vida.
Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem
que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua
sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de
autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo
e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de
atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e
não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o
ator.
O público vai ao teatro por causa dos atores. O
autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes
interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um
cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma
dádiva.
O ator tem que saber que, para ser um ator de
verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso
que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento
de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da
personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade
entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como
os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.
Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de
humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua
insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da
ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu
mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem
tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco
com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para
expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.
Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor
para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu
público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que
tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.
Eu amo os atores que sabem que a única recompensa
que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder
rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no
palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta
sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o
teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se
valer da técnica mecânica. (1986)
eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina
Artur Gomes
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