A Traição das Metáforas
eram duas da madrugada de um ano qualquer na babel de alexandria federika lady querubim gigi me chegou me disse o que nem sei exatamente o que e se era ela mesma quem eu via todas as noites em sonhos quando revisitava biútim pereira joia para saber das suas novas peripécias nos assombrados de araraquara da califórnia tupiniquim desde que de lapuente sumiu pelos acres para o nunca mais passar por aqui deixando uma legião de pescadores órfãos das suas quimeras no sentido de transformar jardinópolis na nossa bizâncio tropicanalista macabea nem em sonhos conseguia se desgarrar do presídio federal de brazilírica e começou a delirar com os caralhos voadores dependurados no ginásio de esportes para a encenação da ciranda do boi cósmico
O ator, produtor, videomaker e agitador cultural Artur Gomes acumula uma bagagem de 50 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas. Gomes poderia se filiar na tradição literária dos chamados poetas malditos, como comumente e simplistamente nos referimos àqueles autores que constroem uma obra “rebelde” em face do que é aceito pela sociedade, vista como meio alienante que aprisiona os indivíduos em normas e regras. Tais autores rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que se manifesta-se também, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características de tais sensibilidades poéticas, que no Brasil já vem de longe com um Gregório de Mattos e ganhou impulso e seguidores com o famoso trio da “parafernália” rebelde: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.
Já tivemos oportunidade de observar em outras obras do autor, que suas construções poéticas seguem sempre renovadas para cima em matéria de criatividade, elencando uma variada diversidade temática que aborda, sempre em perspectiva ousada e radical, desde o doce e suave sentido do amor, ao cruel da relação amorosa, flertando com o libidinoso, e questões existenciais que expressam indignação, desobediência e transgressão. É que, explica ele: “arde em mim / um rio / de palavras / corpo lavas erupção / mar de fogo / vulcão”. Outra faceta do autor, digna de nota, é a criação de vários heterônimos como sejam Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè ou Gigi Mocidade, talvez a mais irreverente de todos, porque fala a bandeiras despregadas, sem papas na língua. “Muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro”.
E aqui temos afinal, mais uma obra desse múltiplo e incansável poeta que caminha com uma flor na boca, símbolo universal de amor, de paz e beleza. A ele não importa verdadeiramente por quais meios: “se sou torto não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro / a carnadura dos meus ossos”. É poética que, para além de perquirir as dores e delícias da condição humana em si, envereda pelo viés de nossa condição social sempre ultrajada. Encontramos um poema que nos pergunta: “quem se alimenta / dessa dor / desse horror / desse holocausto // desse país em ruínas / da exploração dessas minas / defloração desse cabaço // quem avaliza o des(governo / simboliza esse fracasso?”
Artur Gomes segue sua árdua caminhada, agora com o poderoso concurso da maturidade que lhe chega. Segue emprestando sua voz aos deserdados, aos desnutridos, aos que têm sede, aos que têm fome, ou aos que morrem assassinados nos guetos, nos campos, nas cidades por balas de fuzil, desse país que tarda em referendar a cidadania.
Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor e crítico literário.
era um domingo de sol rock and roll e poesia Irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou assim:
- vamos pra saideira
meu vampiro goytacá
canibal tupiniquim meu serafim
a saideira foi itacoatiara itaipu
engenho do mato dentro
engenho de dentro fora
quando penso que clara está vindo
irina já foi embora
na argamassa
do abstrato
no abstrato
do concreto
sou
um vampiro bêbado de sangue
que assassinou os alpharrábios
para inventar seu alphabeto
leia mais no blog
https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/
Jura secreta 56
de metrô ou fantasia
e o assunto que eu mais queria
fosse o que não dissesse
e o mar apenas trouxesse
gaivotas sobre os cabelos
vento sol maresia
e o líquido que não bebemos
fosse conhac ou cerveja
mesmo assim a vida seja
entre o que os pelos lateja
o que a tua boca não fala
o que a tua língua não prova
e a prova das dezessete
te levasse mais cedo
inda assim não tenha medo
a palavra entre meus dedos
é o que ainda não disse
miragem essa coisa nova
agora revisitada
naquela hora marcada
de tudo o que não fizemos
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - Guaratinguetá-SP
2018
https://secretasjuras.blogspot.com/
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux- 2018
vampiro goytacá
canibal tupiniquim
poesia muito prosa
viagens metafóricas por realidades reinventadas
veraCidade
por quê trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos quando piso na augusta o poema dá um tapa na cara da paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário joão guimarães rosa caio prado martins fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta o correto deixei na cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto são paulo é quem me devora selvagem devolvo a dentada na carne da rua aurora
serAfim 1 - Artur Gomes
para ademir assunção
um nome escrito no vento
não quero o sentido normal
da coisa como me aparenta
quero a realidade
exatamente como a gente inventa
no concreto do abstrato
na argamassa do concreto
sou
vampiro bêbado de sangue
assassinei os alfarrábios
para inventar meu alphabeto
tempo de poesia
para renata magliano
lancei o tempo
numa agulha da fresta
ainda bêbado de ontem
bebo as trina e cinco pausas
de uma mulher em chamas
que ainda não conheço
o tempo me dirá o endereço
como metáfora ou alquimia
e sendo drama ou festa
tempo de poesia
é o que nos resta
vamos comer mastigar chupar beber
devorar deglutir cuspir escrever xingar falar sobreviver sobrevoar os telhados de todos os fantasmas goytacá ancestrais invadir os palácios de todos tupiniquins canibais mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz
no lado esquerdo
do peito
o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso
nu poema
a porta
que se abre
a procura do inciso
31 janeiro 2010
era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou assim:
- vamos pra saideira
meu vampiro goytacá
canibal tupiniquim meu serafim
a saideira foi itacoatiara itaipu
engenho do mato dentro
engenho de dentro fora
quando penso que clara está vindo
irina já foi embora
o barro de alguns barracos continuam entranhados na carne com seus nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas unhas vampiro goytacá canibal tupiniquim
no branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br
já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória
quando criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde no porão da casa onde aprendi a enxergar clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro
viraram espelhos para os meus numa madrugada 27 agosto 1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu
quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista
a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno
quem me vê
assim
tão comportado
não sabe
o que se passa
aqui no centro
não sabe do vulcão
em erupção
nesse serTão
do mato dentro
a traição das metáforas
para juliana stefani
dandara ainda mora
naquela beira de estrada
com seu vestido amarelo
no rio grande do sul
mesmo que não esteja
ainda a vejo
atravessando a calçada
saindo do carro azul
abrindo o portão da casa
de 7 portas douradas
com mil garrafas de vinho
psicografadas na sala
por algum poeta dos pampas
que escreveu por aquelas rampas
o que testemunhou nos vinhedos
quando italianos chegaram
nas serras dos meus segredos
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27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos
Artur Gomes
Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h
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Artur Fulinaimagens
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