domingo, 13 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos

 


 EPOS

para Adriana Abreu

 

Nomeia-me, ó Musa, cantor deste mundo suspenso

que seja minha voz como água em córrego denso

que resista e que se espalhe com a força do vento

e que traga só a alegria onde houver o tormento

Sei quanto é difícil a um poeta evocar teu nome

e manter-se ainda firme na meta que o consome

de escolher cada palavra, verbo, frase, pronome

que não venha a sucumbir de sua própria fome

que seja atento, vivo e forte a tudo em volta

que mergulhe fundo no mar agitado da revolta

e traga à superfície a tua voz sonora e solta

livre de toda sanha sinistra que a emudeça

que só o poema e não o poeta transpareça

e que a memória destes versos não pereça

 

Herbert Valente de Oliveira




 MULHER


Sou o fogo
do espírito
das águas
mar original
dos prazeres
onde cada homem
se afoga
e afaga sua sede
de luz
sem saber
dos espinhos e rosas
que guardei do paraíso
em meu olhar.

Antonio Torres




 Em algum lugar além

Vozes veladas cavam
Seu ocluso canto alvo.

Invertem a longa nota
Em invernal fino som
A converter cristalino
Canto em silêncio.

O vocalize sibilino
Escoa sóbre vasto
Grave e agudo que
Ondula langue e leve
Pelo campo tonal.

Tudo se reduz a denso
E baixo que perambula
Pelo entorpecido campo
Ante a derradeira nota.

 

Daniell TW

em Taboão das Trevas




 colho versos

nas pálpebras da calçada
em terra molhada
encharcada de orvalho

sob meus pés
desperta a aurora
sinto cheiro
de nova manhã

trago vestígios de ontem
no estoque da memória

com passo
com passado
re invento história

 

Dinovaldo Gilioli

 


 

Ciranda

o feminino é plural

08 poemas das minas

 

leia aqui https://scenariumlivrosartesanais.wordpress.com/2022/03/09/08-poemas-das-minas




 Guernica é a representação da insanidade humana.

 

Digo não à morte

quando amo, estendo a mão

ao outro, faço pão e café,

acendo o fogo.

Digo não dizendo sim,

quando abraço de longe

os que fogem da guerra,

mulheres jovens e velhas

e crianças, sim ao amor.

Digo não ao céu quando

despeja bombas ao invés

de luz e estrelas.

Digo sim

aos donos da morte,

quando conversam

em volta da mesa,

abandonam as armas,

aos que buscam

um caminho possível.

Cada número dos milhares

e milhões de mortos

e fugitivos,

é tatuado em nossos

corpos.

 

Roseana Murray

#paz




 Pomba Gira

 

A pomba rola

faz ninho no meu pé de sirigüela

poema de 7 cores

grafitado em aquarela

 

Exu está de ronda

Oxossi é quem me leva

Ogum é queme guia

Xangô quem me preserva

Yansã é quem me chama

Yemanjá a que mesalva

Oxum que me protege

de qualquer má companhia

 

Federika Lispector

SubVersão PoÉtica

www.personasarturianas.blogspot.com





 Pindorama

 

ainda sonhamos uma Pindorama

sem falso moralismo sem drama

que os poemas arrombem as portas

de todos  vis sistemas

e desarme as armaduras

vermelha nossa bandeira em terra

alçada  ao sabor do vento

saudando o sol da liberdade

nossa alegria sempre em movimento

com todos os povos reunidos

numa grande aldeia indigenista

e  derrotarmos  para sempre

qualquer que seja no planeta

as insanas criaturas

que com  fardas e gravatas

ainda  comandam

a dita dura

 

Federico Baudelaire

SubVersão PoÉtica

www.arturkabrunco.blogspot.com





 DESTA VEZ

VOCÊS NÃO ME MATAM

o rio Hovy chora
não é um lamento
é coisa sem nome
o sertão foi embora
pra cidade grande
nossos nativos
foram junto
uns beberam de morte
outros enforcaram-se
muitos perderam-se
de dor
a vida passava na estrada
os invasores os invasores
os invasores
fui um desses filhos da terra
em outra vivência
fui tanto
e agora sou pouco
velho vestido de poema
levitando entre o pântano
a serra e o deserto
das almas deste mundo
e agora sou pouco
mas desta vez
vocês não me matam

(Lalo Arias/fevereiro, 2019)
(Fotografia: India Guarani Kaiowa de Mato Grosso do Sul; Google Imagens, sem menção do

autor) 




 

E ainda receitam coração de beija-flor

aprendi a voar, não foi da noite para o dia...
foi quando me cortou as asas o anjo da poesia.

Carvalho Junior
[DANÇA DOS DÍSTICOS]




 

SubVersão PoÉtica

 

oficial quase sempre

me dá asco

sou o carrasco

da farda e da gravata

inimigo nº 1

do nó que não desata

 

Artur Fulinaíma

www.fulinaimagens.blogspot.com






Coletivo Macunaíma De Cultura

www.fulinaimargem.blogspot.com 

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