sala
de ensaio
moram dentro o mar
dois olhos florescentes
por trás desta paisagem
não são olhos de peixe
são dois feixes de luz
dois faróis brilhantes
que olham infinito
desde um outro tempo
mar de outras eras
nem era primavera
aquela vez primeira
nem era quarta feira
na sala de ensaio
diante dos espelhos
os olhos como raios
encontraram os
meus
nem brilhavam ainda
como brilham agora
neste mar de Zeus
Artur
Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
deputados cínicos e fascistas
travestidos de democratas
insuflados por escravocratas
como um mineiro das Neves
apalavrado por Bicudo
transformam dignidade
em uma lata de lixo
ao bel prazer: impunimente
articulando um GOLPE
descaradamente
como se o Brasil fosse habitado
exclusivamente por dementes
e não percebesse que a trama
no bastidor foi engendrada
pelo seu vice-presidente
com a idêntica traição
que esquartejou Tiradentes
Federika
Lispector
www.braziliricapereira.blogspot.com
1
& tranca o trinco da jaula
2
Do
livro Zona Branca
Vladimir
Maiakovski
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Assim como a
criança
humildemente
afaga
a imagem do
herói,
assim me aproximo
de ti, Maiakóvski.
Não importa o que
me possa acontecer
por andar ombro a
ombro
com um poeta
soviético.
Lendo teus
versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que
correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam
a cerviz;
e nós, que não
temos pacto algum
com os senhores
do mundo,
por temor nos
calamos.
No silêncio de
meu quarto
a ousadia me
afogueia as faces
e eu fantasio um
levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus
lábios
calem a verdade
como um foco de
germes
capaz de me
destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por
repetir
são mentiras.
Mal sabe a
criança dizer mãe
e a propaganda
lhe destrói a consciência.
A mim, quase me
arrastam
pela gola do
paletó
à porta do templo
e me pedem que
aguarde
até que a
Democracia
se digne a
aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou
amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada
a lhe espetar as
costelas
e o riso que nos
mostra
é uma tênue
cortina
lançada sobre os
arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao
nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da
colheita
lá estão
e acabam por nos
roubar
até o último grão
de trigo.
Dizem-nos que de
nós emana o poder
mas sempre o
temos contra nós.
Dizem-nos que é
preciso
defender nossos
lares
mas se nos
rebelamos contra a opressão
é sobre nós que
marcham os soldados.
E por temor eu me
calo,
por temor aceito
a condição
de falso
democrata
e rotulo meus
gestos
com a palavra
liberdade,
procurando, num
sorriso,
esconder minha
dor
diante de meus
superiores.
Mas dentro de
mim,
com a potência de
um milhão de vozes,
o coração grita –
MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa -
Fulinaíma MultiProjetos
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