quinta-feira, 29 de agosto de 2024

entre os lençóis

itabapoana pedra pássaro poema


pedra  alga  água

sal na carne de fedra

sigo

e esse templo não me medra

dou uma volta

no pastoreio das ovelhas

meu livro sagrado é obsceno

minha jura secreta

é carnavalha profanalha

nos cornos dos canalhas

meu pai me ensinou o ser profano

se puder faze por mais

não vou fazer por menos

*

como poesia devoro

pra matar a fome

quando oro

o prazer tem outro nome 


fulinaimicamente - poundianas

 

federika lispector ainda muito jovem saiu da faculdade de matemática partiu para recife me deixou com a flor na boca depois do boi-pintadinho na ciranda do boi cósmico fulinaimicamente poundiana a pedra do itabapoana beijou meus calos lambeu meus cotovelos marcou comigo em  niterói e me perdi no rio de janeiro 

*

em registro setembro de mil novecentos e noventa escrevi entredentes para mariana de piracicaba antes que virasse roteiro para algumas peripécias no engenho central no largo dos pescadores no bar a beira rio como éter mariana evaporou no ar e abriu um largo espaço de ventre entre um poema e outro que o vento levou para mais longe


quem me dera serAfim
beija-flor na primavera
beijando Rúbia Querubim


                                   *


escrevo

sobre o que vivo

 parido cuspido

 sangrado vivido

memórias do absurdo

  su-realisticamente?

:

 Não

 fulinaimicamente

*

 faço a minha parte

fulinaíma          arte
o que ninguém faz

não me interessa
        eu tenho pressa


*

 

mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
      mar quando vem
         me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai


O POEMA
Para Artur Gomes

O poema falado, amassado, tosquiado
Reluz na voz das ânsias esparramadas
Nas janelas dos ouvidos entupidos de cera
Nos buracos das grandes enxurradas
Reluz na voz das reentrâncias dos rios
Reluz na voz das ribanceiras dos mares
Reluz na voz das inconstâncias dos ventos
Reluz na voz das fendas seculares

O.poema! esse arauto das verdades veladas
Acende o fogo! Estremece o tempo!
Um segundo de poema é lamento
Tormento, dúvida, incerteza, solidão

Riso que chora. Fogueira. Assombração.
Pavio solar. Alumbramento. Imensidão.

O poema! Esse arauto das verdades veladas
Reluzente esperma de ternura
Faca na alma! Espelho da brancura
Borrada em sangue. Esperança. Tessitura.

Anna Miranda
Julho 2021



talvez eu seja
um pouco panfletário
um diabo concretista

na cara do otário
quando avisto o mar à vista
surrealista

anti/moralista
pra entortar a linha reta
mais anarquista
            que poeta


suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
*
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora


guaxindiba

aqui
passávamos carnaval na juventude e éramos recebidos com grande amor onde acampávamos no quintal do pescador 5 da madruga íamos colher rede do pescado e passávamos a semana comendo peixe assado no buraco de areia com cachaça cerveja e mariola em guaxindiba conheci a minha primeira sereia angélica flor do bosque e foram anos de luas e serestas ruas e florestas estrelas incendiárias



A Traição Das Metáforas
:
Um Outra

 

há tempos
não escrevo
um poema como esse
:
a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um imagem cinerbética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do espelho atrás da porta do meu quarto ainda quando teu retrato em Nova Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre Guima que cultiva em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo Antônio que HygiaFerreira guarda para o casamento com ela aprendi que o amor mora muito além da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do outro lado


madrugada
também arde
como a tarde
que tarda
clarear

um outro ser
a noite que ainda  teima
em não amanhecer



Pedra Dourada

em pedra dourada
conheci 8 minas
uma me deixou de quatro
fez de mim gato e sapato
não fosse eu camaleão
quase lagarto
cairia na cilada

agora não se fala mais
agora não se fala nada



Artur Gomes

leia mais no blog

O Homem Com A Flor Na Boca

https://arturgumes.blogspot.com/


Dani-se morreale

se ela me pisar nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
Dani-se

se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
Dani-se

se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se o fato
deste sangue quente
em tua boca dos infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós modernos


Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Litteralux – 2020

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/



Literofagia

comer a palavra
degustar
deglutir
digerir
vomitar
poesia
eu bebo
eu como
Oswald de Andrade
na geleia geral
pelos becos botecos e pelos
bares da cidade
literofagia

buscando veracidade

nessa terra goytacá

e os vestígios do meu povo

que hoje não mais existe

                           hoje já não há 



o pau brasil ainda sangra

 

no último dia de agosto

do ano de dois mil e vinte e quatro

amarrei os cadarços dos meus sapatos

na realidade dei um nó

 

o pau brasil ainda sangra

brasil é brasa

fogo por toco canto

fogo por toda casa

 

incêndio  na Amazônia

incêndio no pantanal

mas em sampa o governador

afirma que não é crime

:

“tudo dentro dos conformes

tudo dentro do normal

progresso do regime

economia de mercado

terra para a soja

pasto para o gado”

 

a mão assassina tem nome

a mídia assassina é uma só

ou não elegemos mais

quem defende agro negócio

e a bancada dos seus sócios

ou morreremos todos assados

                   e o país vai virar pó

 

 Artur Gomes

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/



irina ontem estava assim meio formiga meio borboleta caminhava no trilho em linha reta nos laranjais de assombradado

:

- foi aqui que conheci uilcon amor a primeira vista mergulhei em mar de letras em cada lavra da palavra signo anti/moralista

:

irina me provoca calafrios quando despe os seus sentidos nos parangolés de oiticica sem a mãe das arte manhas a arte no brasil como é que fica?

no carnaval da verde/rosa a cruz de malta vascaína meio brazuca meio guesa nem sei dizer se é carioca nem sei dizer se é portuguesa

 

Artur Gomes

leia mais no blog



 O Poeta Enquanto Coisa

 

por um poema 
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus 
da tua boca

arranhe os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor

assumo o risco
não sou demo
nem corisco 
eu sou cantor

Iansã é quem me lava
Oxossi é quem me leva
Ogum é quem me manda
Oxum é quem me guarda 

eu sou o que invoca 
o que provoca 
e incorpora 
desconcentra 
desconforta 
desconstrói 
e desconcerta 

eu sou o que interpreta representa 
o que inventa 
e desafora 

o Anjo Torto 
graças a Zeus 
a pedra e ao Machado de Xangô 

a Capitã do Mato Caipora 
me xinga de poeta enganador 
mal sabe ela 
que eu sou da reza 
que o homem que se preza

nunca se escraviza 
com chicote de feitor

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Litteralux – 2020

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/




 teu cheiro

é como formigueiro
atiça meus sentidos

como disse paulo leminski

sentado não vale a pena

não tem ápice no poema

o desejo pulsa de pé

para atingir os sustenidos

 

Federico Baudelaire

leia mais no blog

https://arturgumes.blogspot.com/



entretanto


eu tenho sede
eu tenho fome
eu tenho sede de canto
eu tenho fome de conto
assim quando me encontro
ou desencontro
canto e conto
a música do desconcerto
o conto do desencanto
e no entanto confesso
que não sou triste
um poema ainda existe
pra me animar do desconforto
para me salvar do entretanto
pra me acertar no desconcerto

 

Artur Gomes

O Poeta Enqaunto Coisa

Editora Litteralux – 2020

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

                    Dionisíaca

 

hoje é domingo

de Hera me vingo

com minha sarcástica ironia

 

fisto-me de Dionísio

nessa festa pras Bacantes

 

me consagro teu amante

pelos vinhedos de Baco 

no ápice sagrado

da  su-real pornofonia

 

Artur Gomes

O Poeta Enqaunto Coisa

Editora Litteralux – 2020

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

 



o poema as vezes é sabre

lâmina fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia

 

Artur Gomes

mar de letras rio de palavras  

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

 




       por onde passeio minha língua

tenho ainda tuas unhas
mesmo não estando
entre meus dedos
e no estado em que me encontro
mar é corpo palavra/carne
tua língua meu brinquedo

não creio amor sem isso
nem entanto aquilo outro
pouco entendo do espírito
mas o meu inda é de porco

se nunca estive
agora estando
é que absinto não me cura

se o seguro porto
é que procura
pode tentar o outro lado
que o meu é mais o lança/chama
pra incendiar teus navios
muito além dos temporais
acender língua de fogo
como um danado cão vadio
farejando as altas ondas
deste terrível mar bravio

como se sabe ou como soube
amor não cabe em calmaria
em outro nome nunca coube
e nem atlântico caberia
quero beijar teu mar de búzios
e até teus seios comeria
ao mergulhar por entre as coxas
beber teu mel na maresia

 

Artur Gomes

mar de letras rio de palavras  

leia mais no blog

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

 entre os lençóis

 

o outubro 
me deixou no tudo nada 
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono

ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas 
Amsterdã nos teus cabelos 

o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia 
nossos corpos estavam banhados
                    de vinho tinto e poesia

 

Artur Gomes

Do livro O Poeta Enquanto Coisa

Editora Litteralux – 2024

nova tiragem em breve

conheça nossos autores e as ofertas em nosso catálogo https://www.editoralitteralux.com.br/autores/A


      Antropofagia


esse poema é um tratado
entre o poeta que tem fome de clareza
e sua musa simbolismo de beleza

se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
disse o poeta a sua musa ainda esfinge

beber na fontes dos seus olhos
sem medo de ser feliz

ela completa
não quero poema em linha reta
ainda sou clarice/beatriz
é ela quem me diz

mas eu não sou discreto
no abstrato do concreto
no concreto do abstrato

todo homem que tem fome
abapuru é o teu auto-retrato

Artur Gomes
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
https://arturgumes.blogspot.com/


aonde vai cinzia farina

toda vestida de letras

como quem grafita na areia

um espelho d´água

à beira mar na lua cheia? 


poema atávico

 

e se a gente se amasse uma vez só
a tarde ainda arde primavera tanta
nesse outubro quanto
de manhãs tão cinzas

 

nesse momento em Bento Gonçalves
Mauri Menegotto termina
de lapidar mais uma pedra 
tem seus olhos no brilho da escultura

 

confesso tenho andado meio triste
na geografia da distância
esse poema atávico tem

a cor da tua pele
a carne sob os lençóis

 onde meus dedos
ainda não nasceram

 

algum deus

anda me pregando peças
num lance de dados mallarmaicos

comovido
ainda te procuro em palavras aramaicas 
e a pele dos meus olhos anda perdida
em teu vestido

 

poética 44

 

na pedra do sossego
eu me abstenho


na pedra do sossego
eu me abstrato


na argamassa dos teus olhos
me preservo

 

na pele dos teus dedos

meu barato


nos mamilos dos teus seios
me concreto


no cio do teu corpo
eu me retrato

 

 

Poética 88

 

gosto dos tecidos

que cobrem a pele das ovelhas

gosto do mel

do útero das abelhas

nem sempre o vinho

em meu altar é sacrifício

o meu ofício

em Passo Fundo o sobre nome

é mais sagrado

que a cópula nas igrejas

não sei o nome que se dá

a tudo isso

só sei que gosto

de estar com os olhos fundos

no mais profundo do orifício

 

Pastor de Andrade

em Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim


laia

 

a ninfetinha espanhola

me deu bola na cena de cinema

a pele em transparência

sob o vestido quase nua

são jorge ali da lua se perguntava

em que filme de Almodovar

ela transa nessa Espanha

que cor tem a aranha quando tece

sua teia?

eu tenho sede dessa coisa cristalina

desse transe de menina

que me arranha sem parar

 

Federico Baudelaire 


       Cama de Gato

 

Ouvindo Cama de gato

as memórias vão subindo

desde as solas dos sapatos

de um tempo sem disfarce

olho no olho cara a cara

todas as cartas do baralho

expostas sobre a mesa

e os sonos inaugurando nova aurora

nas caixinhas de surpresa

 

Gigi Mocidade

https://www.youtube.com/watch?v=HeAg9yzgzvY



Entre os dentes

trago uma língua afiada

                    carNAvalha

para tudo que me valha

 

Rúbia Querubim

https://arturfulinaima.blogspot.com/


O Pau Brasil Sangra

 

o Pau Brasil sangra

Amazônia clama por socorro

o fogo queima e o mundo

gira feito carrapeta

armar o país de livros

única forma 

de salvação para o planeta

 

Artur Gomes

 

leia mais no blog https://fulinaimicamente.blogspot.com/


com uma câmera nas mãos

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça

 

era uma vez um mangue

e por onde andará Macunaíma?

na tua carne no teu sangue

na medula no teu osso

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do teu pescoço?

 

Artur Fulinaíma


alguma poesia 


 não.

não bastaria a poesia deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos. 

não.

não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

não.

não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.

 não.

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e uma cheiro de fêmea no ar devorador

aparentando realismo hiper/moderno,
num corpo de anjo

que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos

 não.

não bastaria toda poesia

que eu trago em minha alma um tanto porca,

este postal com uma imagem meio Lorca:
um bondinho aterrisando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor  deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus ossos.

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva – 1987

Pátria A(r)mada 2ª Edição - 

Desconcertos Editora - 2022  

fosse muito mais  que uma jura secreta
poema em linha reta  nos vales do café 

às margens da 040 nas Minas do Espírito Santo

entre uma linha e outra  da estrada do encontro 
muito mais que fotografia  a pele na grafia

do dia que amanhece na porta de uma igreja
da noite que viemos

fosse muito mais onde estivemos 
e quase não tocamos  a lua no espelho 
no poema que escrevesse 
por quanto muito mais se quisesse

ou     esquecesse


caderno de viagem 2

 

sempre pensei o inferno

fosse uma ferida aberta

no meu olho esquerdo

a boca do diabo e o seu escarro

 

agora olho e vejo

que não existe inferno além da vida

inferno é muito mais que uma feridano barro em que te beijo

na estação da morte em Puerto Cavajarro

                        em que Viejo

 

Artur Gomes Fulinaíma

O Homem Com A Flor Na Boca

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/

Live em homenagem a Antônio Cícero

No próximo dia 23 às 16:hs à convite da minha amiga  Renata Barcellos BarcellArtes  estaremos nessa live em homenagem a memória de  Antônio ...