itabapoana
pedra pássaro poema
pedra alga água
sal na carne de fedra
sigo
e esse templo não me medra
dou uma volta
no pastoreio das ovelhas
meu livro sagrado é obsceno
minha jura secreta
é carnavalha profanalha
nos cornos dos canalhas
meu pai me ensinou o ser profano
se puder faze por mais
não vou fazer por menos
*
como poesia devoro
pra matar a fome
quando oro
o prazer tem outro nome
fulinaimicamente - poundianas
federika lispector ainda muito jovem saiu da faculdade de
matemática partiu para recife me deixou com a flor na boca depois do
boi-pintadinho na ciranda do boi cósmico fulinaimicamente poundiana a pedra do
itabapoana beijou meus calos lambeu meus cotovelos marcou comigo em niterói e me perdi no rio de janeiro
*
em registro setembro de mil novecentos e noventa escrevi entredentes para mariana de piracicaba antes que virasse roteiro para algumas peripécias no engenho central no largo dos pescadores no bar a beira rio como éter mariana evaporou no ar e abriu um largo espaço de ventre entre um poema e outro que o vento levou para mais longe
quem me dera serAfim
beija-flor na primavera
beijando Rúbia Querubim
*
escrevo
sobre o que vivo
parido cuspido
sangrado vivido
memórias do absurdo
su-realisticamente?
:
Não
fulinaimicamente
*
faço a minha parte
fulinaíma arte
o que ninguém faz
não me interessa
eu
tenho pressa
*
mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
mar
quando vem
me
entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai
O POEMA
Para Artur Gomes
O poema falado, amassado, tosquiado
Reluz na voz das ânsias esparramadas
Nas janelas dos ouvidos entupidos de cera
Nos buracos das grandes enxurradas
Reluz na voz das reentrâncias dos rios
Reluz na voz das ribanceiras dos mares
Reluz na voz das inconstâncias dos ventos
Reluz na voz das fendas seculares
O.poema! esse arauto das verdades veladas
Acende o fogo! Estremece o tempo!
Um segundo de poema é lamento
Tormento, dúvida, incerteza, solidão
Riso que chora. Fogueira. Assombração.
Pavio solar. Alumbramento. Imensidão.
O poema! Esse arauto das verdades veladas
Reluzente esperma de ternura
Faca na alma! Espelho da brancura
Borrada em sangue. Esperança. Tessitura.
Anna Miranda
Julho 2021
talvez eu seja
um pouco panfletário
um diabo concretista
na cara
do otário
quando avisto o mar à vista
surrealista
anti/moralista
pra entortar a linha reta
mais anarquista
que poeta
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
guaxindiba
aqui
passávamos carnaval na juventude e éramos
recebidos com grande amor onde acampávamos no quintal do pescador 5 da madruga
íamos colher rede do pescado e passávamos a semana comendo peixe assado no
buraco de areia com cachaça cerveja e mariola em guaxindiba conheci a minha
primeira sereia angélica flor do bosque e foram anos de luas e serestas ruas e
florestas estrelas incendiárias
A Traição Das Metáforas
:
Um Outra
há tempos
não escrevo
um poema como esse
:
a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de
terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um
imagem cinerbética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do
espelho atrás da porta do meu quarto ainda quando teu retrato em Nova Granada
conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre Guima que
cultiva em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo Antônio que
HygiaFerreira guarda para o casamento com ela aprendi que o amor mora muito além
da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de Macabea quando Lady Gumes
enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com Afrodite tive um surto de
desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do outro lado
madrugada
também arde
como a tarde
que tarda
clarear
um
outro ser
a noite que ainda teima
em não amanhecer
Pedra Dourada
em pedra dourada
conheci 8 minas
uma me deixou de quatro
fez de mim gato e sapato
não fosse eu camaleão
quase lagarto
cairia na cilada
agora não se fala mais
agora não se fala nada
Artur Gomes
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O Homem Com A Flor Na Boca
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Dani-se morreale
se ela me pisar nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
Dani-se
se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
Dani-se
se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se o fato
deste sangue quente
em tua boca dos infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós modernos
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
Editora
Litteralux – 2020
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Literofagia
comer a palavra
degustar
deglutir
digerir
vomitar
poesia
eu bebo
eu como
Oswald de Andrade
na geleia geral
pelos becos botecos e pelos
bares da cidade
literofagia
buscando veracidade
nessa terra goytacá
e os vestígios do meu povo
que hoje não mais existe
hoje já não há
o pau
brasil ainda sangra
no último dia de agosto
do ano de dois mil e vinte e quatro
amarrei os cadarços dos meus sapatos
na realidade dei um nó
o pau brasil ainda sangra
brasil é brasa
fogo por toco canto
fogo por toda casa
incêndio na Amazônia
incêndio no pantanal
mas em sampa o governador
afirma que não é crime
:
“tudo dentro dos conformes
tudo dentro do normal
progresso do regime
economia de mercado
terra para a soja
pasto para o gado”
a mão assassina tem nome
a mídia assassina é uma só
ou não elegemos mais
quem defende agro negócio
e a bancada dos seus sócios
ou morreremos todos assados
e o
país vai virar pó
Artur Gomes
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irina ontem estava assim meio formiga meio borboleta caminhava
no trilho em linha reta nos laranjais de assombradado
:
- foi aqui que conheci uilcon amor a primeira vista mergulhei em
mar de letras em cada lavra da palavra signo anti/moralista
:
irina me provoca calafrios quando despe os seus sentidos nos
parangolés de oiticica sem a mãe das arte manhas a arte no brasil como é que
fica?
no carnaval da verde/rosa a cruz de malta vascaína meio
brazuca meio guesa nem sei dizer se é carioca nem sei dizer se é portuguesa
Artur
Gomes
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O Poeta Enquanto Coisa
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
Editora
Litteralux – 2020
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teu cheiro
é como formigueiro
atiça meus sentidos
como disse paulo leminski
sentado não vale a pena
não tem ápice no poema
o desejo pulsa de pé
para atingir os sustenidos
Federico
Baudelaire
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entretanto
eu tenho fome
eu tenho sede de canto
eu tenho fome de conto
assim quando me encontro
ou desencontro
canto e conto
a música do desconcerto
o conto do desencanto
e no entanto confesso
que não sou triste
um poema ainda existe
pra me animar do desconforto
para me salvar do entretanto
Artur Gomes
O Poeta Enqaunto Coisa
Editora Litteralux – 2020
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Dionisíaca
hoje é domingo
de Hera me vingo
com minha sarcástica ironia
fisto-me de Dionísio
nessa festa pras Bacantes
me consagro teu amante
pelos vinhedos de Baco
no ápice sagrado
da
su-real pornofonia
Artur Gomes
O Poeta Enqaunto Coisa
Editora Litteralux – 2020
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o
poema as vezes é sabre
Artur
Gomes
mar de letras rio de palavras
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por
onde passeio minha língua
tenho ainda tuas unhas
mesmo não estando
entre meus dedos
e no estado em que me encontro
mar é corpo palavra/carne
tua língua meu brinquedo
não creio amor sem isso
nem entanto aquilo outro
pouco entendo do espírito
mas o meu inda é de porco
se nunca estive
agora estando
é que absinto não me cura
se o seguro porto
é que procura
pode tentar o outro lado
que o meu é mais o lança/chama
pra incendiar teus navios
muito além dos temporais
acender língua de fogo
como um danado cão vadio
farejando as altas ondas
deste terrível mar bravio
como se sabe ou como soube
amor não cabe em calmaria
em outro nome nunca coube
e nem atlântico caberia
quero beijar teu mar de búzios
e até teus seios comeria
ao mergulhar por entre as coxas
beber teu mel na maresia
Artur
Gomes
mar de letras rio de palavras
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entre os lençóis
o outubro
me deixou no tudo nada
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono
ela arquitetava uma
nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas
Amsterdã nos teus cabelos
o que Van Gog me
trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia
nossos corpos estavam banhados
de vinho tinto e poesia
Artur Gomes
Do livro O Poeta
Enquanto Coisa
Editora Litteralux –
2024
nova tiragem em
breve
conheça nossos autores e as ofertas em nosso catálogo https://www.editoralitteralux.com.br/autores/A
esse poema é um tratado
entre o poeta que tem fome de clareza
e sua musa simbolismo de beleza
se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
disse o poeta a sua musa ainda esfinge
beber na fontes dos seus olhos
sem medo de ser feliz
ela completa
não quero poema em linha reta
ainda sou clarice/beatriz
é ela quem me diz
mas eu não sou discreto
no abstrato do concreto
no concreto do abstrato
todo homem que tem fome
abapuru é o teu auto-retrato
Artur Gomes
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
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aonde vai cinzia farina
toda vestida de letras
como quem grafita na areia
um espelho d´água
à beira mar na lua cheia?
poema
atávico
e se a gente se amasse uma vez só
a tarde ainda arde primavera tanta
nesse outubro quanto
de manhãs tão cinzas
nesse momento em Bento Gonçalves
Mauri Menegotto termina
de lapidar mais uma pedra
tem seus olhos no brilho da escultura
confesso tenho andado meio triste
na geografia da distância
esse poema atávico tem
a cor da tua pele
a carne sob os lençóis
onde meus dedos
ainda não nasceram
algum deus
anda me pregando peças
num lance de dados mallarmaicos
comovido
ainda te procuro em palavras aramaicas
e a pele dos meus olhos anda perdida
em teu vestido
poética 44
na
pele dos teus dedos
Poética
88
gosto dos tecidos
que cobrem a pele das ovelhas
gosto do mel
do útero das abelhas
nem sempre o vinho
em meu altar é sacrifício
o meu ofício
em Passo Fundo o sobre nome
é mais sagrado
que a cópula nas igrejas
não sei o nome que se dá
a tudo isso
só sei que gosto
de estar com os olhos fundos
no mais profundo do orifício
Pastor de
Andrade
em Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
laia
a ninfetinha espanhola
me deu bola na cena de cinema
a pele em transparência
sob o vestido quase nua
são jorge ali da lua se
perguntava
em que filme de Almodovar
ela transa nessa Espanha
que cor tem a aranha quando
tece
sua teia?
eu tenho sede dessa coisa
cristalina
desse transe de menina
que me arranha sem parar
Federico Baudelaire
Cama de
Gato
Ouvindo Cama de gato
as memórias vão subindo
desde as solas dos sapatos
de um tempo sem disfarce
olho no olho cara a cara
todas as cartas do baralho
expostas sobre a mesa
e os sonos inaugurando nova aurora
nas caixinhas de surpresa
Gigi
Mocidade
https://www.youtube.com/watch?v=HeAg9yzgzvY
Entre os dentes
trago uma língua afiada
carNAvalha
para tudo que me valha
Rúbia Querubim
https://arturfulinaima.blogspot.com/
O Pau Brasil Sangra
o Pau Brasil sangra
Amazônia clama por socorro
o fogo queima e o mundo
gira feito carrapeta
armar o país de livros
única forma
de salvação para o
planeta
Artur Gomes
leia mais no blog https://fulinaimicamente.blogspot.com/
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma?
na tua carne no teu sangue
na medula no teu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do teu pescoço?
Artur Fulinaíma
alguma poesia
não.
não.
não.
não.
não.
não bastaria toda
poesia
que eu trago em
minha alma um tanto porca,
Artur Gomes
Couro Cru &
Carne Viva – 1987
Pátria A(r)mada 2ª Edição -
Desconcertos Editora - 2022
fosse muito mais que uma jura secreta
poema em linha reta nos vales do
café
às margens da 040 nas Minas do Espírito Santo
entre uma linha e outra da estrada do encontro
muito mais que fotografia a pele na grafia
do dia que amanhece
na porta de uma igreja
da noite que viemos
fosse muito mais
onde estivemos
e quase não tocamos a lua no espelho
no poema que escrevesse
por quanto muito mais se quisesse
ou esquecesse
caderno de viagem 2
sempre pensei o inferno
fosse uma ferida aberta
no meu olho esquerdo
a boca do diabo e o seu escarro
agora olho e vejo
que não existe inferno além da vida
inferno é muito mais que uma feridano barro em que te beijo
na estação da morte em Puerto Cavajarro
em
que Viejo
Artur Gomes Fulinaíma
O Homem Com A Flor Na Boca
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