a pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
fedra
Federika Bezerra
https://arturgumes.blogspot.com/
sagarânica
a palavra
sagarânica
tem os seus mistérios
o significado fica a seu critério
fulinaimicamente
te digo o som dessa palavra
cola as tripas no umbigo
Artur
Gomes
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ofertório
todo meu senso
político/social
dedico a ela
no livro que sou
enquanto coisa
sensual metáfora
para os olhos de quem lê
para os sentidos
de quem vê
eu sou matéria argamassa
armadura
permaneço
de pé
encaro o tempo
contra o vento
contra a tirania da mordaça
nada que eu não faça
para ela
minha musa – amor é cego
dou de graça
*
não é bicho
é um pássaro
afogado no lixo
*
eu estava aqui sozinho em meu cavalo branco numa manhã de sábado o sol ardendo a tarde e minhas mãos geladas nos lençóis de lã quando o telefone me tirou da cama e me fez pensar nessa manhã de louco todo mistério é pouco eu quero essa hortelã na boca eu quero te beijar
*
fogo fátuo fato fosse festa
fulinaimagem também fosse
essa minha estrela na testa
onça maracatu rural
tacape bodoque flecha
essa minha linguagem, complexa
onde a vida é vendaval
no fundo do poço
tudo enquanto posso
fissura carnadura ossatura
sonoridade dos
ossos
*
quando penso clara
a alma do ovo gema
signo intacto
cabe a ela decifrar
são 3 secretos de dante
são 7 sagrados de bar
cada palavra lavrada
a cada lavra bordada
na costura do mesmo linho
as vezes suor e cerveja
as vezes chuva de vinho
quando penso clara desejo
penetrar o desconhecido
por tudo que tenho parido
por tudo quero inventar
da nascente a foz: um rio de palavras
poema em construção
nem sei onde mar vai desaguar em que pá/lavras em que águas medulas algas em
que marinhas cais ou mágoas cada palavra tem um que de firmamento cada delírio
pode mais que o infinito cada grito muito mais que sacramento o silêncio não me
basta em cada ato foto e fato existência sentimento só me tem se acredito
corpo físico espírito
luta corporal formigueiro
salgueiro mangueira portela
escola samba música refavela
lapa cinelândia santo cristo
copacabana ipanema leblon
corcovado redentor são
conrado
ponte niterói baia guanabara
estágio vertigem alquimia
teatro cinema poesia
jiddu tchello tanussi turiba
telma monica eugenia margarida
angel ricardo ingrid alice
ademir cesar claudinei
gil cetano gal cássia eller
dalila jurema zhôo carolina
adriano joilson alexandre
largo machado glória
catete castelo ocinei
lembranças estados memória
karla gigi mocidade
federika ouro preto vila rica
adriana sady marcela
américa avelima gillioli
fábio simone krihsnamurt
tonho tenório admilson
hamilton florianópolis curitiba
rio mar maresia
barco navio travessia
veredas sagarana ortografia
gramática livro disco harmonia
escrita cidade fotografia
igor dança pensamento
objeto predicado complemento
finalidade velocidade sagaranazes
campos cacomanga coytacazes
vampiro tupiniquim fechamento
reubes fulinaíma ribeiro
frevo xaxado coco pandeiro
torquato geleia leminski
carne sangue fogo pano palha
baudelaire mallarmè
kandisnki
oiticica neville tropicalha
poema portifólio carnavalha
sexo amor virgindade
companheira companheiro virilidade
sarcasmo ironia castidade
padre pátria papa santuário
pornofonia pornografia santidade
eros dionísio zeus apolo
vênus afrodite áfrica grécia
antropologia mitologia anarquismo
hipismo modernismo olimpia
mil novecentos cinquenta sete
quando ainda pivete
estética seca folha didi
classificação mundial campeonato
futebol gol que só eu vi
cores nomes pronomes objeto predicado
tribo indígena capixaba
curumim
aldeia goya tacá amopi
serafina severina serafim
filipe flora sofia isadora
arara iara dandara amora
marina brumadinho minas
mariana isabela irina
nascente foz correnteza
paraíba ceará fortaleza
paraíba ceará fortaleza
sergipe piauí pernambuco
eunuco salvador garanhão
acre maranhão tocantins
amazonas pará parintins
pulga percevejo carrapato
rosa dália margarida alecrim
borboleta alfazema
bem-me-quer
relâmpagos ventania trovoadas
cata-vento rodamoinho tempestade
sussuarana suassuna surubim
sabará itabira querubim
caipora canadá quixeramobim
andorinha passarada piedade
jardim zoológico tom jobim
drummond carlos andrade
quixaba quixadá oriticum
gravata gravura gravataí
porta porteira paraty
pintura prateleira paraquedas
pérola parnaíba piabanha
parnaso paraíso piranha
quixaba quixadá oriticum
picanha paraopeba ocurum
ouvido orelha artemanha
cosme damião doum
*
marajá maracujá murundum
travessão conselheiro vila
nova
olinda recife garanhuns
tapera ururaí guandu
goiaba graviola guaiamum
bomucado bracutaia brucutu
curupira caranguejo caramurú
almandrade ilha bela paracatu
germina girafa girassol
arquitetura
arquiteto armorial
fogo farra
festa futebol
vassourinha frevo carnaval
bola búlica
boleto
bárbara
bruna polleto
passeio passeata passarelli
manifesto martinália marielle
ramisson
augusto brettas
faustino
severino borboletas
tamanduá tremembé tucuruvi
antônio roberto góis cavalcanti kapi
*
na carne da palavra
nasce o poema
entre ossos
cataventos
para Tanussi
Cardoso
o rio de palavras
segue a todo vapor
tanussi não é barato
trato ás águas com apreço
palavra inventar custa caro
mesmo assim nunca desisto
aqui mesmo dou exemplo
riomimriodedentro
rio que vem de fora morro
lá muito longe
estando aqui muito perto
vivorionocentro
esquerdo de cada esquina
curva de cada peito
tanussi um dia me lembro
um rio assim sagarana
fulinaímaindainvento
o que antes nunca dito
nas árvores secas do outono
nas hélices dos cataventos
performance
para Luis Turiba
na trans-piração
a prova dos nove
onde o poema se comove
no sobrenome do abstrato
bem no fundo
do retrato
as linhas curvas do concreto
nos corredores do mam
que polock lambuzou
no aeroporto do flamengo
que a dona portinho projetou
o ano não sei ao certo
helena nunca me disse
que sua tia arquiteta
amava o nome
poeta
que em teus seios mergulhou
ainda hoje admiro
palavras a qualquer preço
signos a qualquer custo
o nome das coisas um susto
como nos desfiles do samba
o complemento
:
adereço
A filha do conde
filha do conde – a outra
saiu do Irajá pra Madureira
madrugada de sexta-feira
mergulhou na baia do estrangeiro
pensou ser Garota de Ipanena
gritou na porta do cinema
:
“eu sou a outra que Vinícius de Moraes
cantou com Baden Powell
no samba para Ossanha
eu sou estranha
pense o que quiser
não sou Nanã
sou filha de Iansã
um fogo de mulher" .
Artur
Gomes
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carnadura
nos anos 90 recebi em um texto de Jommard Muniz de Britto
sobre o portifólio CarNAvalha Gumes,
a palavra carnadura que ficou dançando em pensamento e como bem diz Igor
Fagundes: “pensamento dança. Ela rima com rapadura, formatura, ossatura só não
rima com ditadura. É lá no fundo do poço que extraio tudo o quanto posso.
Carnadura são fibras das nervuras entre/ossos quando berro alto contra tudo que
é desmando no silêncio do desassossego.
Artur
Gomes
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Zé Limeira a primeira cartilha que estudei na tapera antes da
terceira série primária quando me encontrei com Amália embaixo da bananeira quero
aprender a nadar na montanha da mina geral pegar a nau pra Portugal ir parar em
Blumenau atrás da filha do conde que se afogou no matagal lendo o vampiro
catatau que encontrou na geladeira
convidei alguns amigos, que já tenham lido pelo menos um livro meu para me fazerem duas perguntas sobre o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim, que pretendo lançar em 2025. As perguntas estão chegando cada uma mais instigante e criativa que a outra. O texto que surgir desses diálogos será publicado como prefácio.
Artur Gomes
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