terça-feira, 26 de novembro de 2024

era uma vez um rio

 

                                    Um rio

 

Era uma vez…

Um rio

Que de tão vazio,

já não era rio

e nem riachão,

tão pouco riacho.


Não era regato,

nem era arroio,

muito menos corgo.


Era uma vez…

um rio

que, de tanta cheia,

já não era rio

e nem ribeirão.


Era mais que Negro,

era mais que Pomba,

era mais que Pedra,

era mais que Pardo,

era mais que Preto,

bem maior ainda

que um rio grande.


Era uma vez…

um rio

que de tão antigo

era temporário,

era obsequente,

era um rio tapado

e antecedente.


Que não tinha foz,

que não tinha leito,

que não tinha margem

e nem afluente,

tão pouco nascente.


Mas que era um rio.


Não era das Velhas,

não era das Almas,

não era das Mortes.


Era um Paraíba,

era um Paraná,

era um rio parado.


Rio de enchentes,

rio de vazantes,

rio de repentes:

Um rio calado:


Sem Pirá-bandeira,

Sem Piracajara,

Sem Piracanjuba.


Em suas águas

não havia Pira

não havia íba,

não havia jica,

não havia juba.


Nem Pirá-andira,

nem Piraiapeva,

nem Pirarucu.


Era um rio assim:

Sem pirá nenhum.


Mas que era um rio.


Era uma vez….

Um rio.


Que, de tão inerte,

Já não era rio.


Não desaguou no mar,

não desaguou num lago,

nem em outro rio.


É um rio antigo,

que de tão contido

não é natureza.

Um dia foi rio,

há muito é represa.

 

Antônio Roberto Góis Cavalcanti(Kapi)

 

foto: Artur Gomes

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