quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Posfácio - para Artur gomes

 CAVOUCANDO A TERRA

 

                        Wilson Coêlho

 

A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.

Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia,  como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.

A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal. 

Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar  as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade. 

Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da poesia extemporânea. 

Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”.  Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina.

Posfácio de Artur Gomes

                                                               Renata da Silva de Barcellos (Pós-doutorado em                  

                                                                                Literaturas – CEJLL – NAVE RJ)

 

Nesta obra intitulada Itabapoana Pedra Pássaro Poema, Artur Gomes possibilita o leitor navegar em diversas áreas do conhecimento: Literaturas: “quando Rachel escreveu quinze meus olhos doeram nos olhos”; Música: “Joilson Bessa me disse Kapiducéu já ensaia Macunaíma vem vindo no Auto do Boi Macutraia” e “misturei meu afro reggae a muito xote do xaxado ainda fiz maracatu maxixe frevo já juntei ao fox trote quando dancei bumba meu boi em pernambuco fulinaíma é punk rock rasgando fados em bossa nova feito blues para pintar a pele branca de vermelho e repintar a pele preta de azuis”. Um verdadeiro passeio por diversos gêneros. Não poderia faltar o samba “do azul/marinho da Portela o verde/rosa da Mangueira”. E Artes plásticas: “levanta natureza morta você não é Cubismo de Picasso nem Surrealismo de Dali diante os cabelos de aço de Frida Calo”.

 

O poeta utiliza três palavras-resumo: poesia alquimia bruxaria. Essas sintetizam a essência dos seus poemas. De fato, alusões (“helena me deu um cavalo de pau”) e citações (“se foi Cândido Portinari quem pintou as portas de entrada da favela ou se foi Rúbia Querubim”) são “misturadas” ao tom crítico (“só come o pão que o diabo amassou portas sempre fechadas na cara do trabalhador grandes fortunas livres de impostos projeto para aliviar o bolso do povo câmara dos deputados rejeitou”). Dessa forma, surge seu estilo próprio no qual seus textos são ricos em referências, possibilitando o leitor com um bom nível cultural a se deleitar em novas possibilidades estéticas de poesia. Através delas, podemos constatar seu posicionamento político “contra o poder da tirania” como em (“eu sou matéria argamassa armadura permaneço de pé encaro o tempo contra o vento contra a tirania da mordaça nada que eu não faça”).

 

Uma das características da poesia contemporânea é a experimentação “sem existencialismo cansei dos ismos pós concreto”. Gomes faz diversas alusões ao poeta francês Charles Baudelaire, considerado o pai da poesia moderna, a partir de 1848: “nasci federico DuBoi de Baudelaire da caneta de um poeta que não...”  e a Mallarmé com as experimentações como em Um lance de dados. Na atualidade, compreende-se a língua como “plástica e maleável”, permitindo criações por Gomes como: “A pá-lavra poesia” – “leminsk i Ando”- “se FlorBela ainda vive” e “em carNA val meu olho disse:” Também é marcante a força pela surpresa lexical com neologismos “brasilírica”. Assim, utiliza alquimia para desbravar novas formas de linguagem como em: “ sagarânica” (A palavra Sagarana é um neologismo que une o radical germânico “saga” cujo significado é "canto heroico" ou "lenda", com a palavra tupi “rana”, sentido "que exprime semelhança" e o sufixo "-ica" é um sufixo nominal de origem latina). Essa é uma das marcas desta obra. Observa as palavras para decompô-las como em “primavera” criou “Ana à Vera” a fim de recriar e expressar novos sentidos.

 

Outra marca da poesia contemporânea é valorização da intertextualidade, um recurso linguístico que já havia sido observado na corrente modernista. Exemplo: que não sou triste um poema ainda existe pra me animar do desconforto para me salvar do entretanto pra me acertar no desconcerto”. Salve, salve Cecília Meirelles!

 

Faz alusão a fatos históricos para crítica social como a chegada do português (“enquanto na primeira missão galo camões bem galinha chocando o ovo do índio ou pero vais que caminha”) e a Independência do Brasil (“no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza Leopoldina”). O poeta conduz seu leitor a refletir sobre diversos acontecimentos também.

 

Dessa forma, trata-se de uma obra primorosa na qual o autor demonstra o poder de articular diversas áreas do conhecimento. E de um belo exemplo da Poesia Contemporânea. Vale a pena a leitura!!! Sugestão: utilizar em sala de aula para aprimorar o conhecimento de mundo dos alunos. E viva a POESIA CONTEMPORÂNEA! 



me arrepio

dos pés dos cabelos

aos pelos da película

da medula

quando ouço

uma jura secreta

na boca do poeta

com sua língua

fornalha

faz tempo muito tempo

desde a sua carNAvalha

que o meu rio se estremece

           e aí eu rogo em prece

que o meu corpo ainda valha

     uma palavra no teu cio

 

                         Irina Serafina

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 VeraCidade

 

pedra de toque

pedra de rock

veracidade meu bodoque

tem seu preço

na minha idade esta cidade

ainda não conheço

ninguém sabe escrever o endereço

desde os tempos

das colônias dos impérios

dos tropeiros dos tropeços

 

irina passeia à beira mar vestida de maresia beija no vento o sal do suor da pele nua quando senta na pedra do sossego gozando a liberdade de ser unicamente sua

 

                                     Artur Gomes

 

surucabano

 

chiriquela gata magrela

com sua boca da guesa

me pergunta da janela

por sua mãe portuguesa

dandara a psicopata

de família  irlandesa

traiu a confidência de zapatta

no carnaval pernambucano

matou o pai numa  gravata

e se alistou no exército mexicano

 

                        Federika Lispector

 

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Couro Cru & Carne viva

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Assembléia Geral e Irrestrita

 

De caráter urgentíssimo Federika Lispector convocou uma assembléia conjunta entre a Mocidade Independente de Padre Oliváco – A Escola De Samba Oculta No Inconsciente Coletivo e a cúpula diretora da Igreja Universal do Reino de Zeus, para tornar público resultado da pesquisa de Pastor de Andrade nas cidades de Alombradado e Cu-deburro, sobre crimes eleitorais praticados mas eleições municipais de 2024, e ao mesmo tempo oficializar o noivado de Marcelo Brettas e Rúbia Querubim, que possivelmente se dará no lançamento do livro Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim marcado para 2025.

 

Irina Severina

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zanzalar

 

um desafio para se caminhar é sal é pedra carvão é mar na borda do campo paranapiacaba morde o calcanhar de três cidades não santas mas nada disso me espanta para na mata atlântica pedalar

se enfiar novamente no mato curupira carrapato  pirapora comer do verde que na mata inda restou

ouvir da mata tom jobim no seu cantar na língua do sapobemba  no bico da sabiá que ainda não cantou

beber da água da bica do lago billing e de toda natureza virgem/selvagem  voltar a  me alimentar

 

Artur Gomes

fotos: de Israel Mario Lopes

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Artur Gomes – Fulinaimagens

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