A meus deuses
profanos.
Sou ateu, mas sou poeta.
Portanto: Malandro e santo.
E me resguardam uns outros tantos agora exus e
anjos
(Alguns são vivos).
Tenho a proteção dos desvalidos, dos malditos, dos
mal interpretados, dos mal tidos.
Baudelaire, Macalé, Zeca Baleiro...
a melodia do melodia, um panteão inteiro.
Neste céu infernal, Bukowski podre de bêbado está
na porta.
É o chaveiro.
Bocetas multicoloridas voam como borboletas entre
flores de cannabis no desfiladeiro.
O fruto proibido se esgotou.
Só sobraram ressacas e vertigens.
No céu dos poetas que o diabo projetou,
só ficou proibido o acesso às virgens
(que deixam na entrada com Bukowski os preciosos
hímens).
Vinícius pinta no arco-íris, uma aquarela de vícios
chorando litros de Whisky ao rememorar Toquinho.
O Tom dá o tom do seu lamento.
Em afinada arpa o acompanha Cartola
que também toma umas biras lá no firmamento,
quebra o precioso instrumento...
pede ao Zé Pilintra a viola.
Mas vejo no canto sozinho...
Camões caolho e desditoso...
Mario Quintana lhe oferece um
cigarrinho...Diz-lhe: “- Todos os poemas são de amor”.
Nesse ponto, discutem de novo.
Fernando é que é pessoa intratável...
Ninguém até hoje fez amizade com o cara...
Contempla a natureza nova, novamente insondável.
Quer se matar de novo e murmura: “- Eu não sou
nada... não sou nada.”
Garcia Lorca lidera a passeata LGBT.
Cazuza o ama, mas quem ama Cazuza é Caio Fernando
Abreu.
Rimbaud apaixonou-se por Rilke
que envia cartas a um jovem poeta feito um pateta
(porque nunca o leu).
Renato puxa papo com Tchaikovski, tenta a cantada
ruim por impulso, oferece um o pó mágico a ele, e diz:“- Oi gato, eu também sou
Russo.”
Drummond assiste tudo de cima.
Cisma em reescrever “A Quadrilha”.
O mineirinho até que foi convidado como
simpatizante,
mas segue comedido e reservado como era antes.
Prefere as musas, a solidão, a materialidade das
coisas...
Conclui coisas secas.
Rejeita por vezes a rima.
Plantou escrivaninha no alto pra contemplar vasto
mundo.
Não sai por nada lá do cume.
Florbela espanca Anais Niin por ciúme.
Cora Coralina tece serenos bordados de renda, de
versos.
Ao cair da noite tudo se resume...
Em calmarias e desassossegos dispersos.
No céu dos poetas e das poetizas,
há sempre um serafim que abranda,
um querubim que satiriza.
E eu cá embaixo sou mais um devoto dos desmiolados
santos.
E sou regido por eles.
Por mais que eu cante outros pontos.
Num dia difícil, material, literal, áspero,
concreto...
intuo que não estou sozinho, tomo uma taça de
vinho...
Vejo meus deuses de perto.
Marcelo Atahualpa - Macaé-RJ
Segundo lugar no XXI FestCampos de Poesia Falada
– 2019 - categoria - Poesia
o rio com seus mistérios molha meu cio em silêncio desejo o que nos separa a boca em quantos minutos a língua solta na fala
sábado, 11 de março de 2023
A meus deuses profanos
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