“O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e
inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente”
gênesis (2.7)
epifania
(p/ euclides, yeats e soffiati)
guiava a picape pela montanha
entre curvas da estrada e do rio
que ambos seguiam à planície
na qual não nasci, mas habito
desde quando aprendi a pisar
e a montanha nas suas certezas
de subir e descer no caminho
falou-me na língua das pedras
de onde brotam as águas:
— decifra-me ou te desfaço!
feito do barro massapê
sobre o qual caminhei a vida
tendo o plano por destino e partida
consultei as cores do crepúsculo
que, melancólicas, se riram de mim:
— de onde vens? — indagaram-me as cores
— de cambuci, refúgio dos puris!
— para onde vais?
— aos campos dos goitacás!
— o que corre ao seu lado?
— o rio!
— e para onde corre o rio?
— ao mar!
e riram-se de novo as cores:
— pois então!
a montanha, descontente pela ajuda
escondeu o sol e exilou as cores
antes que se voltasse a mim, respondi:
— não te decifro, sou você
sou teu barro, que o rio lava,
carreia e forma a planície
sou o que deságua no mar e o escurece
meu templo não se ergue na pedra
mas no que nela colide e desprende
não me desfaço, transformo!
Aluysio Abreu Barbosa
atafona, 04/06/2000
2º Lugar no IIº FestCampos d e Poesia Falada – 2000
foto: Pontal/Atafona - Artur Gomes
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